Pesquisas no Brasil continuam tentando compreender a atuação do Zika e há um esforço conjunto para avançar em pesquisas. Um artigo publicado por pesquisadores da Fiocruz mostrou imagens inéditas da gravidade da lesão de bebês com microcefalia. Na USP, projeto da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) uniu forças com parceiros estrangeiros para mapear a resposta imunológica do vírus. E, no Instituto Butantan, grupo multidisciplinar procura entender esforço de doenças urgentes que, como o Zika, requerem rápida atuação.
O trabalho da Fiocruz foi publicado no prestigiado periódico Neurology, da Academia Americana de Neurologia. Ele traz imagens tridimensionais de lesões do crânio de um bebê, em que a mãe foi exposta ao vírus Zika no primeiro trimestre da gestação.
O artigo é resultado de pesquisa realizada no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Os especialistas Dafne Horovitz, Marcos Vinícius Pone, Sheila Pone, Tânia Regina Saad e Márcia Cristina Boechat participaram do estudo.
Ao mostrar que as lesões são mais graves e mais profundas que outras condições que apresentam sintomas aparentes similares, o trabalho corrobora o que já vinha sendo dito por especialistas: a microcefalia não pode ser o nome da condição, mas uma de suas características. O que se vê é uma condição mais profunda, com lesões mais graves, que alguns especialistas caracterizam como a “Síndrome Congênita do Zika”.
O estudo descreve que o tecido cerebral nessa infecção foi significativamente afetado e houve a destruição do cérebro em desenvolvimento. Os achados também corroboram o que pesquisas anteriores mostram: o Zika prefere o sistema nervoso e o ataca. Esse ataque destrói o cérebro e alguns neurônios perdem suas funções. O comprometimento dessas crianças, com isso, é muito extenso: bebês apresentam problemas de visão, surdez, dificuldade de engolir a saliva e convulsões.
Mapeamento imunológico
Na USP de Ribeirão Preto está em curso um projeto em parceria com o Departamento de Medicina do Imperial College (Reino Unido) e com o Instituto de Pesquisa Benaroya (Seattle, Estados Unidos). O objetivo é entender o que leva algumas pessoas a terem diferentes respostas imunológicas quando são infectadas. Algumas, por exemplo, desenvolvem sintomas mais graves, como a Síndrome de Guillain-Barré (paralisia mais rara), e outras sequer desenvolvem os sintomas típicos.
Por meio do mapeamento, o projeto pretende chegar a conclusões sobre quais pessoas estão mais vulneráveis ao vírus -o que poderia desencadear uma nova estratégia para uma vacina ou até entender qual população deve ser alvo de imunização. O projeto da USP recebeu R$ 250 mil da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Grupo de Ação Rápida para Doenças Emergentes (Garde-IB)
No Instituto Butantan, além de estarem em curso testes em busca de uma vacina, foi criado o Grupo de Ação Rápida Para Doenças Emergentes, que vai ocupar o prédio do antigo Paço das Artes, na Universidade de São Paulo. O projeto terá um custo de R$ 25 milhões e será dedicado ao estudo de doenças que demandam esforços rápidos, como a dengue, o Zika e chikungunya. O grupo será multidisciplinar, com cientistas da pesquisa básica à aplicada.
*Com Aline Câmera, da Agência Fiocruz; e Rita Stella, da FMRP e da Agência USP de Notícias
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