Como as memórias podem ser esquecidas? Pelo contexto, diz estudo

A experiência de lembrar de um fato totalmente aleatório por um cheiro, ou pelo som de uma música é um dado da realidade -e nem precisamos da ciência para atestar isso. Mas os cientistas podem nos apontar caminhos para utilizar essas informações a nosso favor. Um estudo da Universidade de Dartmouth, em Hanover (EUA), por exemplo, mostrou que é possível usar esses dados para esquecer de experiências passadas. “Como usamos essas informações para lembrar, também podemos usá-las para tirá-las da memória, desde que entendamos os processos envolvidos nesse mecanismo”, escreveram os autores. 

A pesquisa chamou essas informações de “contexto” e afirma que, se conseguirmos alterá-lo, poderemos intencionalmente esquecer da experiência passada. O estudo foi publicado no periódico Psychonomic Bulletin and Review e os resultados podem ter aplicações em disfunções como o transtorno do estresse pós-traumático, em que a memória de lembranças ruins têm um papel importante.

Para chegar ao resultado, cientistas utilizaram imagens obtidas por exame de ressonância magnética para analisar áreas do cérebro relacionadas à memória. Durante o exame, eles mostraram aos participantes imagens de cenas ao ar livre -como florestas, montanhas e praias. Ao mesmo tempo, entregaram duas listas de palavras aleatórias, que deveriam ser estudadas pelos participantes.

“Nossa esperança era que as pessoas conseguissem incluir nesses pensamentos ideias relacionadas com a cena mostrada”, diz Jeremy Manning, principal autor do estudo e professor assistente em Dartmouth.

Memórias ruins podem ser mais facilmente esquecidas, se os contextos forem alterados. Foto: Ingimage
Memórias ruins podem ser mais facilmente esquecidas, se os contextos forem alterados. Foto: Ingimage

Depois, os participantes do estudo foram orientados a esquecerem ou memorizarem a lista de palavras que aparecia entre as imagens.

A ressonância captou que aqueles indivíduos que conseguiam esquecer as palavras misturaram o pensamento antigo com o novo contexto mostrado na imagem. Mas quando os pesquisadores disseram aos participantes para se lembrarem de alguma palavra, não ocorreu essa mistura de pensamentos. 

Ainda, por meio da ressonância magnética, era possível prever se a experiência seria lembrada ou não. Um exemplo: se o exame identificava que o participante conseguia prestar atenção na praia e inserir esse cenário dentro da experiência antiga, era possível prever se ele iria se lembrar ou esquecer da memória. 

O trabalho sustenta que o contexto tem um papel fundamental na nossa habilidade de organizar pensamentos de experiências passadas e mostra que podemos “esquecer” de uma memória ao misturar informações antigas com novos dados. 

“É como tirar pensamentos de cozinha da sua avó instantaneamente da sua mente, se você não quer pensar sobre a sua avó naquele momento”, diz Manning. Segundo o autor, o estudo mostra que esquecer também pode fazer parte do tratamento. “Primeiro, os estudos da memória estão muitas vezes preocupados como nos lembramos, em vez de como podemos esquecer, e esquecer também pode ser benéfico.”


Leia o estudo:

A neural signature of contextually mediated intentional forgetting. Disponível em: http://link.springer.com/article/10.3758%2Fs13423-016-1024-7


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