Entenda a crise da saúde suplementar e por que terá efeitos a longo prazo

Entre janeiro a outubro deste ano, 1.138.385 pessoas perderam o plano de saúde. O número já é maior do que o apurado em todo o ano de 2015, que foi de 1.000.191. Apesar da queda do número de beneficiários ter desacelerado nos últimos meses – o que aponta para uma provável estabilização do setor – algumas consequências dessa crise da saúde não serão revertidas no curto prazo.

Vejamos os porquês:

1 – Plano de saúde ficou mais caro

Para compensar a perda de receita causada pela queda do número de usuários, muitas operadoras aplicaram reajustes de mensalidade extremamente elevados, muito acima da inflação ou de qualquer outro índice existente.

Isso aconteceu porque 80% do mercado é composto por beneficiários dos chamados contratos coletivos, cujo índice de reajuste não sofre interferência e nem fiscalização efetiva da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Para se ter uma ideia do que isso significa,  a média do aumento aplicado pelas principais operadoras de saúde em 2015 e 2016 para contratos coletivos empresariais com até 29 vidas foi de aproximadamente 20% ao ano.

E, como se já não bastasse o alto custo do serviço, a renda do consumidor diminuiu com a crise ou não foi reajustada em índices compatíveis com o do aumento do plano de saúde.

Logo, quem manteve o plano de saúde paga hoje mais caro para compensar a perda de receita da operadora e precisa comprometer uma fatia muito maior de sua renda para pagar pelo serviço.

Resolução da crise na saúde suplementar passa pela recuperação da economia. Foto ilustrativa: Ingimage
Resolução da crise na saúde suplementar passa pela recuperação da economia. Foto ilustrativa: Ingimage


2 – Desestímulo aos empregadores

O principal responsável pelo crescimento do mercado de saúde suplementar no País é o setor que emprega.

Durante o período de estabilidade econômica, muitas empresas passaram a oferecer voluntariamente o plano de saúde aos seus empregados como forma de atrair e reter talentos e outras incluíram esse benefício por força de acordos coletivos.

Hoje, as preocupações das empresas empregadoras são bem diferentes. Atrair e reter talentos ainda é importante, mas ter recursos para pagar a conta passou a ser prioridade e, diante dessa nova realidade, o plano de saúde se tornou um grave problema.

O benefício é caro, o reajuste é imprevisível e, uma vez oferecido aos empregados, ele se torna um direito adquirido, de forma que, se for necessário cortar despesas e a empresa tiver que decidir entre dispensar empregados ou cortar o benefício, a Lei a obriga a optar pelo corte do emprego ao invés do benefício.

Um problema que afeta a todos

A saúde pública, já em estado crítico, não tem condições de tratar os 150 milhões de brasileiros que dependem desse serviço e, muito menos, de absorver novos pacientes.

Recuperar a saúde suplementar e ampliar seu acesso para mais usuários é fundamental para melhorar o sistema de saúde como um todo.

Se não há recursos para ampliar o investimento na saúde, a opção mais sensata é criar meios para diminuir a quantidade de pessoas que dependem desse serviço, de forma a permitir a ampliação do investimento per capita e isso só acontecerá com o crescimento do mercado de saúde suplementar.

Esse crescimento depende do interesse dos empregadores em voltar a oferecer o benefício aos seus empregados e depende, também, da oferta de produtos mais acessíveis.

Quem não puder contar com o plano de saúde vinculado ao emprego também não encontrará muitas opções para contratar o serviço de forma particular.

Nas grandes capitais, a falta de contratos do tipo individual, voltados para pessoas físicas, exige que o consumidor interessado em contratar um plano de saúde tenha um CNPJ para poder contratar um plano coletivo empresarial ou seja associado a uma entidade representativa de sua classe profissional que ofereça plano coletivo por adesão.

Em outras palavras, se não for através do empregador, o consumidor, hoje, além do dinheiro para pagar, precisa ser empresário (ter um CNPJ) ou ter ensino superior para poder se associar a uma entidade de classe profissional e então contratar um plano de saúde.


Comentários

3 respostas para “Entenda a crise da saúde suplementar e por que terá efeitos a longo prazo”

  1. Avatar de Ricardo Piccolo
    Ricardo Piccolo

    Esses planos de saúde prestam um serviço de péssima qualidade, com marcação de consultas para até dois meses.

  2. continuando….social para as “Políticas Públicas” reverem…. a conferir….

  3. Em resumo se corre para o plano oficial, o bicho pega, se pelo privado – planos de saúde- o bicho come. Cada dia que passa se pergunta – inclusive no EUA – o Fidel não tinha razão ????? A grande questão

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