Foto: Ingimage
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Mencionei a questão da água em meu livro “Viver Muito” (Ed. Leya, 2010), como um empecilho para o planejamento financeiro. O idoso do futuro terá despesas que nunca tiveram seus pais e muito menos seus avós. Esse é o aspecto individual da questão. No âmbito social, três perguntas inquietam: uma sociedade mais envelhecida pode ser mais ou menos sustentável ambientalmente? O indivíduo demandaria mais ou menos recursos naturais à medida que envelhece? Como uma economia da longevidade poderia mitigar esses efeitos?

No livro “Novo regime demográfico – uma nova relação entre população e desenvolvimento?”, editado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), sob a coordenação de Ana Amélia Camarano, dois capítulos analisam a relação envelhecimento e meio ambiente. Como se sabe, o envelhecimento populacional (maior percentual de idosos na população) decorre de um aumento na expectativa de vida concomitante a uma baixa taxa de fecundidade (número de filhos por mulher). O resultado é uma redução da população a longo prazo e o seu envelhecimento. Os ecologistas sempre defenderam, portanto, a baixa fecundidade a despeito do efeito colateral do envelhecimento com a justificativa de que uma população menor pouparia os recursos naturais do planeta. O pesquisador José Féres, autor de um dos capítulos, começa seu texto destacando que o menor ritmo de crescimento populacional do Brasil nas últimas décadas em nada ajudou a tornar mais amena a degradação ambiental. Pelo contrário.

Ao longo de décadas de análise, ficou claro que o impacto está relacionado com os padrões de consumo e de produção. Lembro um dado divulgado pelo Banco Mundial. De 2000 para 2010, a população dos países em desenvolvimento cresceu de 83% para 85% da população mundial, enquanto o consumo saltou de 18% para 30%. A exemplo do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Féres recupera outros argumentos além da quantidade, como a urbanização, mudança no perfil de domicílios e questiona: De que modo estes novos hábitos da vida contemporânea alteram o consumo? Um dos principais pontos levantados pelo autor é a moradia individual e tem relação direta com o envelhecimento populacional.

Oposto ao senso comum, apenas 1% da população idosa brasileira vive em asilos, a maior parte vive em arranjos familiares diversos, mas o número de idosos vivendo sozinhos tem aumentado significativamente. Entre 1992 e 2012, de acordo com a Pnad, triplicou, passando de 1,1 milhão para 3,7 milhões, um crescimento de 215%. “Domicílios são caracterizados por economias de escala. Aqueles com maior número de habitantes tendem a apresentar um menor consumo per capita” escreve Féres. O número médio de pessoas por domicílio no país caiu de 5,3 pessoas em 1970 para 3,3 em 2010. “Isso se deve à queda da fecundidade e ao fato de o número de domicílios ter crescido mais rápido que o ritmo de crescimento da população”, afirma, apesar de sublinhar várias ressalvas técnicas que deve fazer todo bom cientista.

Até agora, a municipalidade em todo o país está muito preocupada com o transporte individual. Qualquer biker olha de cara feia para um motorista sozinho em seu veículo. Mas ele pode causar um impacto maior ao efeito estufa se morar sozinho. Até porque o problema, no futuro, talvez não seja mais o petróleo. Do ponto de vista de uma economia da longevidade, o estímulo à co-habitação ou condomínios, residências comuns, ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos), centros-dias que sempre garantam a autonomia da pessoa idosa será uma política ambiental tão importante quanto qualquer outra. A economia da longevidade deve estar preocupada em devolver escala aos domicílios brasileiros.

Se o poder público ainda patina nesta direção, muitos empreendedores estão atentos para este filão de negócios. O custo da água e da energia vai empurrar o idoso do futuro para o domicílio compartilhado. Esta é uma tendência mundial. Talvez a crise hídrica atual possa apressá-la. Nos próximos posts, voltarei a analisar essa intersecção entre meio ambiente, envelhecimento populacional, políticas públicas e negócios. Convido-os a me acompanhar aqui na Brasileiros, pois nossa jornada de reflexões sobre a Economia da Longevidade está só começando.