Incor, da USP, comemora mil transplantes com políticos e protestos

Em cerimônia realizada na manhã da segunda-feira (1), o Instituto do Coração da Universidade de São Paulo anunciou a realização de 1080 transplantes – 794 de coração (564 em adultos e 230 em crianças) e 286 de pulmão. A contagem é feita desde 1985, quando o hospital fez o seu primeiro transplante. Hoje, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, o InCor responde por mais de 40% dos procedimentos feitos no País e 37% dos que são feitos no estado de São Paulo. 

O paciente número 1000 recebeu o transplante no InCor em setembro de 2015, quase 50 anos após o primeiro transplante da América Latina.  Além de comemorar a marca do transplante, a instituição alcançou este ano a sétima posição do ranking entre os dez maiores centros de transplantes cardíacos do mundo. Um dos aspectos que levaram à conquista desse posto, de acordo com o hospital, foi a implantação de um novo modelo de gestão que, desde 2013, colocou todas as equipes sob a mesma coordenação. Com a mudança, os grupos de cirurgia, clínica e multiprofissional de transplantes de coração adulto e infantil e pulmão passaram a atuar de modo mais integrado. Uma das consequências desse maior entrosamento foi a melhora de indicadores como a redução da taxa de mortalidade logo depois da cirurgia (o chamado pós-cirúrgico imediato), que baixou para 10%, índice comparável aos níveis registrados pela Cleveland Clinic, o maior centro de cardiologia dos Estados Unidos. 

Para celebrar os resultados alcançados e também o lançamento de obras de infra-estrutura para os cursos de pós-graduação e telemedicina feitas com doações da iniciativa privada, a instituição convidou crianças transplantadas e suas famílias, médico e políticos. Lá estavam o governador Geraldo Alckmin, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, e o secretário da Saúde de São Paulo, David Uip, entre outros. O presidente em exercício Michel Temer, que era esperado, não compareceu.

Na frente do InCor, manifestantes aguardam a saída de autoridades estaduais e federais. Foto: Brasileiros
Na frente do InCor, manifestantes aguardam a saída de autoridades estaduais e federais. Foto: Brasileiros

Dentro e fora do anfiteatro onde estavam políticos e pacientes, manifestantes exibiam cartazes citando Serra, Barros, Uip e Temer. Além do clássico Fora Temer, um dos cartazes pedia: “Alckmin e Uip, convidamos vocês para um banquete com V.R. de R$ 8,00”; outro exibia a frase “Não ao golpe no SUS”. Havia também cartazes pedindo a volta da presidente afastada Dilma Roussef. Segundo registrou o coletivo Jornalistas Livres, o evento já tinha terminado quando um dos seguranças arrancou o cartaz de uma senhora que se manifestava contra o desmanche do SUS.

Em sua fala, o cardiologista Roberto Kalil, presidente do conselho diretor do InCor, disse que a instituição fará em 2016 ainda mais transplantes do que no ano passado. “Em 2015, foram 83 transplantes de coração. Neste ano, já são 44”, disse Kalil. Ele deixou registrado que o InCor poderia fazer ainda mais se houver um aumento no número de doadores de órgãos. “Em estrutura e captação de órgãos, se melhora a cada dia. Temos estrutura para isso, o problema é o doador. Tem doadores, mas precisamos de mais”, afirmou. No início de junho, o presidente interino Michel Temer assinou um decreto para que a Força Aérea Brasileira mantenha um avião à disposição para levar pacientes até órgãos disponíveis ou vice-versa. 

À frente da instituição desde 2012 e com mandato de 18 anos, Kalil se vale de sua grande habilidade de articulação e do trânsito livre de que desfruta em todas as esferas do poder – independentemente da gestão – para reclamar verbas e melhores condições operacionais para o InCor. Temer, Alckmin e Serra são pacientes do cardiologista, assim como a presidente afastada Dilma Rousseff, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ex-presidente Lula, o médium João de Deus, o presidente do Senado, Renan Calheiros e os notórios Paulo Maluf, José Sarney, Fernando Collor e Agripino Maia, para ficar nos personagens da cena política mais conhecidos. 


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