#ViradaFeminista: Mulheres na linha de frente de resistência ao golpe

“A virada será essencial nesse momento político porque, no contexto de um projeto de perda de direitos, os nossos [das mulheres] são os primeiros a serem atacados”, enfatiza Carla Vitória, que faz parte da equipe da SOF (Sempreviva Organização Feminista), organização mentora da #viradafeminista2016, junto com a Marcha Mundial das Mulheres. A virada ocorre a partir das 18h de sábado (3) e termina às 18h de domingo (4), no Centro Cultural da Juventude, na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo.

A resistência ao golpe – além de interessar diretamente às mulheres – está no cerne da virada feminista, diz Vitória, porque o feminismo é um ideal radical de igualdade: de direitos, de renda, de acesso à educação e à saúde, de direito à livre manifestação e de ir e vir no espaço urbano para homens, para mulheres, para trans, para cis, para todos.

Desde o começo do processo de impeachment, movimento feminista se articula contra o golpe.  Foto: Alessandra Ceregatti (Marcha Mundial das Mulheres São Paulo)
Desde o começo do processo de impeachment, movimento feminista se articula pela saída de Temer. Foto: Alessandra Ceregatti (Marcha Mundial das Mulheres São Paulo)

Mas, sobretudo, a virada é um grito de luta. Carla Vitória diz que o evento tem a função de mostrar para as mulheres que elas devem estar na linha de frente da resistência. “Devemos ocupar os espaços públicos e nos organizar porque a onda conservadora avança e vai tentar legislar sobre os nossos corpos”, diz.

A programação completa da virada pode ser acessada aqui. Ainda, num esquenta para a jornada, nesta sexta-feira (3) haverá palestra com a professora Silvia Federici, da Hofstra University, em Nova York, no Centro Universitário Maria Antônia, às 14h. Militante feminista desde 1960, ela participou ativamente dos debates internacionais sobre a condição e a remuneração do trabalho doméstico. Durante a década de 1980, trabalhou  como professora na Nigéria, onde foi testemunha de uma onda de ataques aos bens compartilhados. Em 2015, a SOF traduziu e publicou em português seu artigo “O feminismo e as políticas do comum em uma era de acumulação primitiva”.

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Em sua segunda edição, a virada foi organizada com financiamento coletivo e arrecadou R$ 27.000 para o evento. Feito sem nenhum real da primeira vez, agora, será possível dar ajuda de custo a todos os artistas e convidados. “A gente entende que a cultura deve ser recompensada e ficamos muitos felizes porque, mesmo com um pouquinho, muita gente contribuiu, e conseguimos a nossa meta”. As atividades da virada são abertas a todas, mas as vagas das oficinas são reservadas às mulheres. 

As atividades da virada foram divididas em três eixos considerados fundamentais para a resistência feminista: o corpo, a cidade e a luta.

No corpo, atividades terão por foco a autonomia das mulheres sobre o próprio corpo. “Esse é o nosso primeiro território de resistência”, diz Vitória. Autoestima, autonomia, legalização do aborto, e mecanismos contra a mercantilização dos corpos das mulheres serão tratados aqui. “Cada vez mais, a autoestima das mulheres está atrelada ao mercado. Hoje, ainda tenta-se cooptar o discurso feminista tentando criar nichos de consumo que não fogem à lógica de objetificação.”

Vitória cita campanhas de marketing que tentam vender a ideia de que mulheres podem ser felizes fora de um padrão de beleza, mas que ainda assim, reforçam que elas devem consumir. “A autoestima da mulher não deve estar ligada ao consumo, seja para seguir um padrão, seja para não segui-lo”. Também para Vitória, nesse eixo, a mulher deve ser vista fora de uma via de consumo para o desejo masculino.

Conversa sobre como enviar nudes seguros, oficina de escrita erótica, debate sobre autonomia e liberdade no corpo das mulheres, oficina de linguagem corporal e de dança e autonomia fazem parte desse eixo.

No eixo cidade, o evento traz atividades que discutem o direito da mulher à cidade, e à locomoção com segurança. O assédio no transporte será debatido, bem como o direito a serviços fora do centro expandido. Também distâncias sociais e geográficas, bem como postos de trabalhos precários reservados amulheres e a dupla-jornada (em casa e no trabalho) serão problematizados.

Aqui, vivência de grafite, sets de DJs feministas, oficina de batucada, introdução à cultura hacker, discussão sobre a cidade que as mulheres querem, roda de conversa sobre a migração das mulheres, debate sobre as diversas identidades públicas e privadas das mulheres e bate-papo sobre economia solidária no campo e na cidade.

Campanha #GolpeéMachista, organizada pela Marcha Mundial das Mulheres. Imagem: MMM
Campanha #GolpeéMachista, organizada pela Marcha Mundial das Mulheres. Imagem: MMM

Na economia solidária, também mulheres agricultoras do Vale do Ribeira venderam insumos no evento. Carla Vitória diz que a disseminação de um modelo de alimentação que vise a sustentabilidade da vida humana e não o lucro, é uma das lutas da virada. “A gente não pode continuar a comer um monte de veneno”, diz.

Por fim, o último eixo da virada feminista é a luta. Serão desenvolvidas atividades que mostram a importância da organização e da resistência feminista. Eventos vão problematizar o porquê da luta das mulheres  e a necessidade de ocupação feminina dos espaços. Debate sobre luta feminista, oficina de escrita, produção audiovisual feminista e oficina de segurança básica para mulheres estão dentre as atividades.


Esquenta Virada Feminista: Palestra com Silvia Federici, da Hofstra University, em Nova York
Quando: 2 de setembro, às 14h
Onde: Centro Universitário Maria Antônia – R. Maria Antônia, 294 – Vila Buarque, SP

Evento: Virada Feminista 2016
Quando: 3 e 4 de setembro – das 18h às 18h
Onde: Centro Cultural da Juventude – Av. Deputado Emílio Carlos, 3641 – Vila Nova Cachoeirinha, SP
Programação completa: http://www.sof.org.br/viradafeminista2016/

Para acompanhar a cobertura: 
Página do Facebook da SOF (Sempreviva Organização Feminista)
Página do Facebook da Marcha Mundial das Mulheres 


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