“Viver ainda é nossa melhor opção, e é agora, e é incrível”

Lu Cottini, 40 anos, de Minas Gerais
Lu Cottini, 40 anos, de Minas Gerais
Aqui estamos, outubro rosa novamente. Foi em um outubro, há exatamente um ano, que eu recebi o resultado do exame que mudaria minha vida. Por que esperei um ano para escrever? Porque achei que seria mais fácil quando passasse. Só que não, não vai passar. Tem coisas que se incorporam a gente e juntas viramos uma terceira coisa. Nunca mais será como antes…ainda bem.

Há exatamente um ano o nódulo ganhou nome e sobrenome. Carcinoma era o nome, HER2 + o sobrenome.

Não, não tinha casos na família, não era sedentária, não estava acima do peso, não me alimentava mal, não pegava nem mesmo gripe. É isso aí amigues, TODO MUNDO é grupo de risco. É mais ou menos assim, um dia aquela célula que estava lá de boa resolve pirar.

Faço exames periodicamente, e apesar da minha idade (mamografia é recomendada a partir dos 40 anos, isso aqui no Brasil, em países da Europa acima dos 50) meu ginecologista, enquanto mastologista, faz uso sistemático do ultrassom. No mês de abril do ano passado, exame de rotina, ultrassom, nada. Não tinha nada ali.

Junho, dois meses depois, acordei com uma dorzinha no seio e lá estava ele, todo ostentoso, medindo mais de 2 cm. Primeira reação: Não deve ser nada. Avô com diagnóstico de câncer, se preparando para operação, não vai ser o um nódulo qualquer que vai roubar a atenção da família.

Julho, operação bem sucedida, avô que é uma rocha, nada mais era desculpa para não olhar de perto o que estava ali.

Em agosto voltei ao médico e depois de um ultrassom veio a frase: “Vai se preparando porque vamos operar até o final da semana”.

Não teve biópsia, operei sem saber o que era, sem saber que ganharia dois cortes consideráveis, que levaria ao menos seis meses para recuperar os movimentos do braço direito… Mas hoje acho que foi melhor assim, no susto.

Ainda assim achava que não era nada. Justamente por isso, quando o médico abriu aquele envelope, não tive reação. Juro, em nenhum segundo pensei que o resultado seria positivo. Só lembro de um “você vai fazer o tratamento em Varginha” e de responder, “não vou não”.

Lembra Mo, quando te liguei e você falou, vem já pra cá? Aí fui, ou melhor, fomos, eu e você no médico gato, naquele shopping center que é um hospital.

Não tenho plano de saúde, até tenho, mas é pobrinho, só cobre o entorno de São Lourenço. Então falamos para o médico gato: adoramos você mas o tratamento vai ser no SUS mesmo, e ele riu.

Começa a corrida contra o tempo pela vaga no ICESP que salvaria minha vida. Não vou contar aqui essa parte porque merece mais um textão, mas Mo e Serena, amor eterno por vocês. Serena compartilhou, acalentou, me fez rir do que não tinha a mínima graça e partiu. Estrela brilhante, sua ascensão foi o único momento em que balancei. Porque por mim mesma não chorei, nada de pena, tinha que ser feito e eu o fiz.

Em algum momento posso contar, em detalhes, sobre o Instituto do Câncer do Estado de SP, aquele prédio gigante ali na Doutor Arnaldo, e sobre o tratamento em si. Afinal, já faz um ano da nossa relação, meu universo particular, onde me sinto segura e morro de amores por cada personagem.

Quimioterapia, protocolo hard, ok
Radioterapia, diariamente, ok
Cabelo, raspar, cair, nascer, ok
Tratamento, em andamento…

Estou curada? Ainda não mas não tenho a doença, então, ok também.

Falei que não chorei, não chorei mesmo, de tristeza, porém me emocionei várias vezes. Foi tanto amor envolvido que me deu vontade de mandar agora, bem aqui, declarações apaixonadas. Não vou fazer, mas vocês amigos, família, que seguraram minha mão nesta aventura maluca, vocês sabem…

Mais uma observação, tenho pelo menos 5 amigas próximas que sobreviveram ao câncer de mama nos últimos anos… tirem suas conclusões.

É isso, estava na hora, tanta gente corajosa por aí, se expondo, sendo generosas, fazendo diferença. Também quero, quero ser como vocês, dizer que é difícil sim, dá medo sim, mas viver ainda é nossa melhor opção, e é agora, e é incrível.


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