Diante da ameaça global representada pela expansão do vírus Zika, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou a criação de um Comitê de Emergência para organizar a reação à epidemia. A medida foi tomada com base em regulamentações internacionais de saúde frente à preocupação com o avanço do vírus em áreas onde a população tem baixa imunidade, como a América Latina, e diante do aumento do número de bebês com microcefalia, relacionada à infecção durante a gravidez.
“O nível de preocupação é alto assim como o nível de incerteza. Os questionamentos são muitos. Precisamos de respostas rapidamente”, disse a diretora-geral da organização, Margaret Chan, em Genebra, na quinta-feira (28). “O explosivo avanço do vírus Zika a novas áreas geográficas, onde a população tem baixa imunidade, é outro motivo de preocupação, especialmente diante do possível elo entre a infecção durante a gravidez e o nascimento de bebês com microcefalia.”
A OMS ainda não assume a relação direta entre o vírus Zika e a microcefalia em bebês. “Ainda que o elo causal entre a infecção pela Zika durante a gravidez e a microcefalia não tenha sido – e enfatizo isso – estabelecido, as evidências circunstanciais são sugestivas e extremamente preocupantes. Um aumento da ocorrência de sintomas neurológicos, notados em alguns países em coincidência com a chegada do vírus, eleva a preocupação”, disse Chan.
A primeira reunião do comitê convocado por Chan acontecerá no dia 1º de fevereiro. O comitê fará uma avaliação da gravidade da epidemia e dos riscos de cada área afetada para determinar o nível apropriado de preocupação internacional e recomendar medidas de combate e prevenção. A expectativa da comunidade científica é de que a convocação do comitê venha a catalisar a atenção internacional, verbas, pesquisas e estratégias para conter o avanço da epidemia de Zika.
Cientistas criticam lentidão da OMS
O posicionamento da OMS pode ter sido influenciado pelo alerta feito à organização por cientistas americanos de que o zika tem potencial pandêmico explosivo. Em publicação no Journal of the American Medical Association (JAMA) na quarta-feira 27, um dos mais respeitados periódicos científicos do mundo, os pesquisadores Daniel Lucey e Lawrence Gostin afirmaram que a demora da OMS em tomar providências no início da crise do ebola na África teve, entre outras consequências, a perda de milhares de vidas.
Lucey é especialista em doenças infecciosas e professor adjunto da Escola de Medicina da Universidade Georgetown, nos Estados Unidos. Gostin é diretor do O’Neill Institute for National and Global Health Law, também ligado à Univerdade Georgetown.
Os pesquisadores afirmam que a Zika tem dimensões globais e chamam a atenção da OMS para a urgência em assumir um papel de liderança. Lembram ainda que é necessário assumir o protagonismo especialmente frente à aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
Recomendações adicionais delineadas por Lucey e Gostin incluem o controle do vetor (o mosquito), com remoção de fontes de água em áreas de criação de animais, por exemplo, uso de inseticidas, campanhas de informação em saúde, alertas de viagem, investigação científica acelerada e desenvolvimento de vacinas e declarações de saúde públicas, entre outras medidas. “A comunidade internacional não pode se dar ao luxo de esperar a OMS agir”, dizem os pesquisadores.
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