Morreu na noite desta quarta-feira (24) o médico, cientista, pesquisador e escritor Luiz Hildebrando Pereira da Silva, de 86 anos, considerado um dos maiores especialistas em malária do mundo. Ele estava internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, desde o dia 8, quando deu entrada no hospital com um quadro de pneumonia.
Em 1960, quando obteve a livre-docência em Parasitologia, ele viajou como bolsista do CNPq para Bruxelas, na Bélgica, onde trabalhou com o famoso médico René Thomas em Genética Molecular do bacteriófago lambda. Entre 1962 e 1963, também trabalhou no Instituto Pasteur com outro profissional de renome da área, o francês François Jacob, que havia publicado com Jacques Monod o célebre modelo de regulação da expressão gênica em procariontes, que lhes rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1965.
Luiz Hildebrando formou-se em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), em 1953. No ano seguinte, em 1954, trabalhou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba como assistente de Samuel Pessoa. Em 1956, foi nomeado assistente de Parasitologia da Faculdade de Medicina da USP onde trabalhou até 1964, tendo obtido a livre-docência em 1961. Demitido pelo AI-1, de 1964, por ser comunista, foi nomeado Chargé de Recherches no French National Centerfor Scientific Research do CNRS (França) e voltou a trabalhar no Instituto Pasteur de Paris na Unidade de Genetique Microbienne de François Jacob. Retornou ao Brasil em 1968 e foi nomeado Professor de Genética na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) sendo, entretanto, demitido novamente pelo AI-5, em 1969, também por sua ideologia comunista. Mais uma vez, foi viver na França e trabalhar no Instituto Pasteur, onde ficou até a sua aposentadoria, em 1996.
Foi sucessivamente Maitre de Recherches e Directeur de Recherches do CNRS, Professor do Instituto Pasteur, diretor da Unidade de Diferenciação Celular, Diretor da Unidade de Parasitologia Experimental, chefe dos Departamentos de Biologia Molecular e de Imunologia, além de Visiting Professor de Genética na Universidade de Harvard. Regressou ao Brasil em 1997, de onde não saiu mais.
O fato de ser comunista atrapalhou a sua vida profissional, como ele contou em 2012 à revista Época. “Em 1950, fui expulso do Curso de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) por “não apresentar as qualidades morais necessárias ao oficialato” (risos). Com o suicídio do Getúlio, em 1954, começou o governo do Café Filho, que era de direita. Nomearam um integralista para o Ministério da Saúde. Eu estava na Paraíba, trabalhando no Serviço Nacional de Malária. Fui demitido. Em 1956, fui contratado como professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Fui demitido com o golpe de 1964. Fui para a França e retornei em 1968, para trabalhar na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Em 1969, com o Ato Institucional no 5, fui demitido e voltei a Paris. Nunca vivi para o partido. De dia, trabalhava como médico e pesquisador. Só ia às reuniões políticas à noite. Hoje, após tantos anos, cheguei a considerar que estaria na hora de virar social-democrata ou coisa parecida. Acabei desistindo. Vou continuar comunista. Já estou acostumado”, disse.
Luiz Hidelbrando era casado e pai de cinco filhos. O corpo será cremado em São Paulo e a família ainda irá decidir onde serão jogadas as suas cinzas.
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