Temer e seus misóginos

ivan-martins-topo

O novo secretário nacional de Juventude de Michel Temer, Bruno Moreira Santos é acusado de espancar a socos, pontapés e puxões de cabelo a mãe de seu filho, e de ameaçá-la com uma faca. Foto: Reprodução/Twitter: @wmm1985
O novo secretário nacional de Juventude de Michel Temer, Bruno Moreira Santos, é acusado de espancar a socos, pontapés e puxões de cabelo a mãe de seu filho, e de ameaçá-la com uma faca. Foto: Reprodução/Twitter: @wmm1985

O novo secretário nacional de Juventude de Michel Temer encarna perfeitamente as virtudes do regime a que serve. Com apenas 24 anos, Bruno Moreira Santos é acusado de espancar a socos, pontapés e puxões de cabelo a mãe de seu filho, e de ameaçá-la com uma faca. Ao ser abordado pela revista Época para explicar o caso, respondeu que não conhecia a moça. Confrontado com boletim de ocorrência policial, voltou atrás: sim, tivemos um relacionamento e um filho. Rapaz de caráter.

O caso de Santos pôs em evidência a peculiar qualidade humana dos homens que apoiam e cercam o ocupante interino da presidência.

Temer tem ao seu redor e no seu partido uma tropa de agressores e detratores de mulheres que faria inveja aos cafajestes de subúrbio dos contos de Nelson Rodrigues. Seu governo exibe uma espécie de misoginia oficial como nunca se havia visto, e isso não pode ser apenas acidente.

Além de Santos – que oferece péssimo exemplo aos jovens brasileiros –, circula ao redor do governo um artista chamado Alexandre Frota, ex-ator pornô e comediante que tenta fazer rir com narrativas de estupro que afirma serem ficcionais. Quando as feministas o denunciam por apologia de violência contra a mulher, ele as ataca juridicamente e tenta intimidá-las com mensagens agressivas e insultuosas nas redes sociais. Um misógino de carteirinha.

Pois esse cidadão, como todo mundo sabe, foi recebido em audiência pelo ministro da Educação de Temer no dia 25 de maio. Ou o ministro Mendonça Filho vive em Marte e não sabe quem entra em sua sala ou ele e seu chefe não se escandalizam com as palavras e atitudes de Frota em relação às mulheres. É possível que no mundo de Temer todos os homens pensem assim.

Esta semana, coincidentemente, o Supremo Tribunal Federal indiciou por apologia ao crime e por injúria contra uma mulher outro notório fiador do temerismo, o deputado Jair Bolsonaro. Ele disse numa entrevista em 2014 que a ex-ministra e deputada Maria do Rosário, do PT, “não merecia ser estuprada”, porque “era feia e não fazia seu tipo”. Vai ser interessante vê-lo explicando essa escolha de palavras às ministras Carmen Lúcia e Rosa Weber no Supremo.

Se houver justiça no País, Bolsonaro será julgado também pelo que disse na votação do impeachment de 17 de abril, quando dedicou seu voto por Temer ao torturador da presidenta Dilma, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Além da óbvia apologia ao crime de tortura, há nessas palavras um desprezo pela figura feminina da presidenta como nunca se vira na vida pública brasileira.

Embora Bolsonaro não seja do partido de Temer, o jovem Santos é – assim como um tal Pedro Paulo, candidato a prefeito do Rio de Janeiro e deputado federal licenciado pelo PMDB.

Pedro Paulo está sendo investigado pela Procuradoria Geral da União – com autorização do Supremo — por dois registros policiais de agressão contra a então mulher dele, Alexandra Marcondes. Ela diz que em 2008 e 2010, durante discussões de casal, ele lhe deu socos no corpo e no rosto, além de jogá-la contra a parede e agarrá-la pelo pescoço. Numa dessas ocasiões, teve um dente quebrado.

Embora recentemente Alexandra tenha dados entrevistas constrangedoras defendendo o ex-marido – basicamente, disse que ela o atacou primeiro, antes de ser espancada – o procurador-geral Rodrigo Janot achou as modificações da história original esquisitas, além de diametralmente opostas ao depoimento da empregada do casal, que falou como testemunha. Janot pediu para ouvir Alexandra e a empregada.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, as feministas colam cartazes nos muros com os dizeres “Não voto em homem que bate em mulher”. Faz todo sentido.

O que não faz sentido é remover uma presidenta eleita com 54 milhões de votos e pôr em seu lugar um ancião retrógrado que expulsou todas as mulheres do governo e vive cercado por um bando de misóginos, como se o Brasil ainda estivesse nos anos 1950. Isso não é mero acidente.

Minha mãe, que sempre votava em mulheres, me ameaçava desde pequeno com o ditado “diga-me com quem andas e te direi quem és”. Eu achava e ainda acho o ditado preconceituoso, mas tenho de admitir que, aplicado a Temer e seus misóginos, ele cai como uma luva. Minha mãe não gostaria de Temer.

* Ivan Martins é jornalista, escritor e colunista do site da revista Época

 


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.