Na mesma semana em que os deputados estaduais de São Paulo aprovaram o projeto de lei que prevê a criação de um vagão exclusivo para as mulheres, a imprensa reclama do choro dos jogadores da seleção.
Primeiro, a ideia de determinar um vagão para evitar assédio sexual das passageiras durante as viagens é equivocadíssima. Será que é preciso um “vagão rosa” para que os homens aprendam a respeitar a mulher? O respeito, a dignidade e a cidadania devem ser exercidos em qualquer lugar.
Segundo, quem foi que disse que chorar é sinônimo de fraqueza?
As imagens do capitão da seleção Thiago Silva chorando copiosamente durante a partida com o time do Chile circularam imprensa. Ele virou um bode expiatório. Algumas manchetes questionaram a sua braçadeira de capitão. Os jornais passaram a dar destaque às visitas da psicóloga à Granja Comary. Perguntaram a Neymar o que ele achava daquilo tudo, com leve ironia, o jogador sugeriu para os jornalistas procurarem um especialista também. “Faz bem para o ser humano, não é?“.
Emoção demais pode até atrapalhar. Até. Mas no geral é bonito ver um time entrosado, alegre e que dá seu máximo para representar o país, numa Copa do Mundo tão emblemática – e isso pode, sim, significar algumas lágrimas.
E se esta é a “Copa contra o preconceito”, é preciso lutar contra todos eles – discriminação racial, homofobia, machismo… Uma ruptura, por que não? Então, chega de medidas sexistas – sem “vagão rosa” – e sem discriminar o choro – por que fragilizar alguém por se emocionar?
É bacana de ver um time tão diverso – com uma figura carismática (David Luiz), com um fashionista que quebra o padrão de comportamento do “macho alfa” (Daniel Alves), um jogador robusto e com corpo admirável (Hulk) e um craque prodígio cercado de mídia (Neymar). Thiago Silva é capitão sim, “capitão-emoção”. Aliás, ele é capitão do PSG, time que defende na França. Também já vestiu a braçadeira no Milan. Ou seja, não é um líder inventado por Felipão.
E mais, esse cara, é alguém que esteve trancado, há nove anos, em um quarto de hospital por ter sido diagnosticado com turberculose. Foram seis meses de tratamento solitário. Ele tem uma bela história de superação. Em homenagem a essa molecada – que suou a camisa para vencer a Colômbia, fazendo seu melhor jogo nesta Copa – e em homenagem à luta contra os preconceitos e à liberdade de expressão, relembramos da letra de Gonzaguinha: “Um homem também chora”. Dê o play e veja as imagens!
Um homem também chora, menina morena
Também deseja colo, palavras amenas
Precisa de carinho, precisa de ternura
Precisa de um abraço da própria candura
Guerreiros são pessoas tão fortes, tão frágeis
AMIGA ME SEGURA TÔ BÊBADA pic.twitter.com/3QX0LzXm8y
— Luciana Gimenez (@lulusurpepop) 28 junho 2014
Guerreiros são meninos no fundo do peito
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