Lançada em julho, a edição de número 30 da ARTE!Brasileiros trouxe três visões da 56 ª Bienal de Veneza, que esteve em cartaz até 22 de novembro. Nela, Miguel Chaia destacava a “forma significativa” com o que o curador nigeriano Okwui Enwezor buscou “pensar e situar a arte na sociedade”, lançando mão de leituras de O Capital, de Karl Marx. Em entrevista a Fabio Cypriano, Solange Farkas fez coro com Chaia, ressaltando que “usar O Capital como fio condutor da Bienal é, sem dúvida, de uma coragem extraordinária“. A dissonância ficou por conta de artigo de Angélica Moraes, que criticou o discurso anticapitalista de Enwezor “em uma bienal que conta com poderosos logos e o mercado de arte para torná-la possível”.
Os três pontos de vista são exemplares do tratamento plural que a ARTE!Brasileiros, cinco anos recém-completados, busca dar aos assuntos que cobre. Não somente em termos de opiniões e perspectivas, mas também por meio do vasto material de imagens, boa parte colhida in loco, seja em bienais, feiras ou exposições. Com mais de 20 páginas, a cobertura da Bienal de Veneza ganhou até mesmo um ensaio fotográfico sobre a cidade italiana, de autoria de Denise Andrade.
Igualmente alentada, a cobertura da 14ª Bienal de Istambul, publicada em novembro, na edição 32, debruçou-se especialmente sobre a interdisciplinaridade da curadoria da norte-americana Carolyn Christov-Bakargiev. Como ressaltou Patricia Rousseaux, diretora editorial da revista, a mostra trouxe “um grande aporte para a validação da teoria do pensamento complexo” e “a arte contemporânea é um pivô, um elemento disparador para se refletir sobre o indivíduo, a história, a política, a ciência e a literatura”.
A mostra turca também serviu de ponto de partida para Fabio Cypriano falar do fenômeno de “musealização” das bienais, como uma reação à “bienalização” das feiras de arte. As bienais mais recentes, por sua vez, “criaram outra estratégia para se distanciarem das feiras, que é uma relação estreita com o contexto”, e a curadoria de Christov-Bakargiev foi além: “A curadora abordou o contexto como o próprio contexto se tornou parte da obra de maneira eloquente, alcançando assim uma relação ética com o espaço”. A íntegra do artigo A Ética do Espaço está aqui.
Christov-Bakargiev, a propósito, foi uma das participantes do TALKS – Arte como Valor, ciclo feito em parceria com a SP-Arte, e que aconteceu nos dias 9 e 10 de abril, no auditório do MAM-SP. Além da curadora, participaram dos encontros Paulo Herkenhoff, diretor cultural do MAR – Museu de Arte do Rio; Sarah Thornton, escritora e socióloga de arte; Marcio Fainziliber, presidente do Conselho do MAR e colecionador; Thomas Galbraith, diretor de estratégias globais da Paddle 8; Simon Watson, consultor de arte e jornalista; e Donald e Mera Rubell, fundadores da The Rubell Family Collection (RFC). Em tempo: a visita do casal de colecionadores norte-americanos rendeu um convite à ARTE!Brasileiros para visitar a Rubell Family Collection, durante a última edição da Art Basel Miami Beach, entre os dias 3 e 6 de dezembro.
Em entrevista publicada na edição 29, Fainziliber retomou o tema proposto no TALKS, falando da importância de uma obra sob a perspectiva dos diferentes personagens do mundo das artes. “Entendi que não se queria discutir o valor econômico ou financeiro de uma obra. Se assim fosse, colecionadores, curadores e pessoas ligadas a museus seriam pouco qualificados, já que são movidos por paixão acima de tudo, por amor à arte. A maioria absoluta das grandes coleções, por exemplo, não começou com troféus. Elas começaram, sim, com paixão, com uma boa escolha, muita sensibilidade e depois algumas obras viraram troféus, transformaram-se em algo com valor financeiro”, disse.
Assista aos vídeos do TALKS – Arte como Valor aqui
O valor de uma obra de arte também foi objeto de análise de Sarah Meister, curadora do departamento de fotografia do MoMA de Nova York, durante sua participação no TALKS/Foto: Reflexões, nos dias 20 e 21 de agosto, durante a SP-Arte/Foto. Em sua fala, Meister elogiou os trabalhos de jovens fotógrafos presentes na feira, como Ivan Grilo, fez coro com Persichetti e comemorou o fato de que o público, “mesmo sem ter dinheiro, hoje em dia pode usufruir da textura e da fisicalidade da fotografia em muitas galerias, como as de São Paulo, cuja qualidade é muito boa”.
A ARTE!Brasileiros de número 30 trouxe um encarte dedicado à fotografia, com entrevista de Sarah Meister, e artigo de Simonetta Persichetti sobre o crescente destaque do suporte em bienais, feiras, exposições e livrarias.
O ano de 2015 também foi rico em grandes exposições. No início de dezembro, a nova direção do Masp, em São Paulo, culminou seu processo de pesquisa do acervo e das expografias criadas por Lina Bo Bardi com o retorno dos cavaletes de vidro, estruturas criadas pela arquiteta, que foram removidos em 1996 e reprojetadas pelo escritório de arquitetura Metro. Ainda em São Paulo, destacam-se outras duas exposições, que permanecem abertas até fevereiro de 2016: no Itaú Cultural, Sergio Camargo: Luz e Matéria, com mais de 100 obras do escultor, a maioria delas pertencente a coleções privadas e agora apresentadas em conjunto pela primeira vez; e no MAM, o 34ª Panorama das Artes Brasileiras, que, segundo Leonor Amarante, renovou e respondeu “a uma provocação dos tempos, colocando na mesa a questão ambiental”.
Fora de São Paulo, vale lembrar duas mostras de peso: Tarsila e Mulheres Modernas no Rio, que esteve em cartaz até setembro no Museu de Arte do Rio (MAR), que ganhou texto inspirado de Bernardo Mosqueira, na edição 30. E a retrospectiva de Adriana Varejão, com obras inéditas, que esteve em cartaz até novembro no Espaço Cultural Airton Queiroz (Unifor), e foi visitada por Fernanda Cirenza.
Martin Corullon dá detalhes da retomada dos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, na entrevista abaixo:
Saiba mais sobre o 34ª Panorama da Arte Brasileira na entrevista com Paulo Miyada, abaixo:
O ano termina com duas notícias bem contrastantes no ambiente cultural – o incêndio no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, e a abertura do Museu do Amanhã, no Rio, num momento em que outras instituições museológicas fluminenses estão fechadas, como o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Numa chave mais otimista, vale lembrar: 2016 tem 32ª Bienal de São Paulo. O curador da mostra, Jochen Volz, anunciou uma lista parcial dos artistas participantes, com 54 nomes. Programe-se: Incerteza Viva acontece entre 10 de setembro a 12 de dezembro.
Em seguida, Jochen Volz fala da Bienal de São Paulo:
Até 2016!
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