ARTE!Brasileiros relembra bons momentos do cenário artístico em 2015

Lançada em julho, a edição de número 30 da ARTE!Brasileiros trouxe três visões da 56 ª Bienal de Veneza, que esteve em cartaz até 22 de novembro. Nela, Miguel Chaia destacava a “forma significativa” com o que o curador nigeriano Okwui Enwezor buscou “pensar e situar a arte na sociedade”, lançando mão de leituras de O Capital, de Karl Marx. Em entrevista a Fabio Cypriano, Solange Farkas fez coro com Chaia, ressaltando que “usar O Capital como fio condutor da Bienal é, sem dúvida, de uma coragem extraordinária“. A dissonância ficou por conta de artigo de Angélica Moraes, que criticou o discurso anticapitalista de Enwezor “em uma bienal que conta com poderosos logos  e o mercado de arte para torná-la possível”.

Os três pontos de vista são exemplares do tratamento plural que a ARTE!Brasileiros, cinco anos recém-completados, busca dar aos assuntos que cobre. Não somente em termos de opiniões e perspectivas, mas também por meio do vasto material de imagens, boa parte colhida in loco, seja em bienais, feiras ou exposições. Com mais de 20 páginas, a cobertura da Bienal de Veneza ganhou até mesmo um ensaio fotográfico sobre a cidade italiana, de autoria de Denise Andrade.

Leitura de "O Capital", durante 56ª Bienal de Veneza/Foto: Patricia Rousseaux
Leitura de “O Capital”, durante 56ª Bienal de Veneza/Foto: Patricia Rousseaux

Igualmente alentada, a cobertura da 14ª Bienal de Istambul, publicada em novembro, na edição 32, debruçou-se especialmente sobre a interdisciplinaridade da curadoria da norte-americana Carolyn Christov-Bakargiev. Como ressaltou Patricia Rousseaux, diretora editorial da revista, a mostra trouxe “um grande aporte para a validação da teoria do pensamento complexo” e “a arte contemporânea é um pivô, um elemento disparador para se refletir sobre o indivíduo, a história, a política, a ciência e a literatura”.

A mostra turca também serviu de ponto de partida para Fabio Cypriano falar do fenômeno de “musealização” das bienais, como uma reação à “bienalização” das feiras de arte. As bienais mais recentes, por sua vez, “criaram outra estratégia para se distanciarem das feiras, que é uma relação estreita com o contexto”, e a curadoria de Christov-Bakargiev foi além: “A curadora abordou o contexto como o próprio contexto se tornou parte da obra de maneira eloquente, alcançando assim uma relação ética com o espaço”. A íntegra do artigo A Ética do Espaço está aqui.

Detalhe de "Projeto de Buraco para Jogar Políticos Desonestos", de Cildo Meireles, apresentado na 14ª Bienal de Istambul
Detalhe de “Projeto de Buraco para Jogar Políticos Desonestos”, de Cildo Meireles, apresentado na 14ª Bienal de Istambul

Christov-Bakargiev, a propósito, foi uma das participantes do TALKS – Arte como Valor, ciclo feito em parceria com a SP-Arte, e que aconteceu nos dias 9 e 10 de abril, no auditório do MAM-SP. Além da curadora, participaram dos encontros Paulo Herkenhoff, diretor cultural do MAR – Museu de Arte do Rio; Sarah Thornton, escritora e socióloga de arte; Marcio Fainziliber, presidente do Conselho do MAR e colecionador; Thomas Galbraith, diretor de estratégias globais da Paddle 8; Simon Watson, consultor de arte e jornalista; e Donald e Mera Rubell, fundadores da The Rubell Family Collection (RFC). Em tempo: a visita do casal de colecionadores norte-americanos rendeu um convite à ARTE!Brasileiros para visitar a Rubell Family Collection, durante a última edição da Art Basel Miami Beach, entre os dias 3 e 6 de dezembro. 

 

Em entrevista publicada na edição 29, Fainziliber retomou o tema proposto no TALKS, falando da importância de uma obra sob a perspectiva dos diferentes personagens do mundo das artes. “Entendi que não se queria discutir o valor econômico ou financeiro de uma obra. Se assim fosse, colecionadores, curadores e pessoas ligadas a museus seriam pouco qualificados, já que são movidos por paixão acima de tudo, por amor à arte. A maioria absoluta das grandes coleções, por exemplo, não começou com troféus. Elas começaram, sim, com paixão, com uma boa escolha, muita sensibilidade e depois algumas obras viraram troféus, transformaram-se em algo com valor financeiro”, disse.

Assista aos vídeos do TALKS – Arte como Valor aqui

O valor de uma obra de arte também foi objeto de análise de Sarah Meister, curadora do departamento de fotografia do MoMA de Nova York, durante sua participação no TALKS/Foto: Reflexões, nos dias 20 e 21 de agosto, durante a SP-Arte/Foto. Em sua fala, Meister elogiou os trabalhos de jovens fotógrafos presentes na feira, como Ivan Grilo, fez coro com Persichetti e comemorou o fato de que o público, “mesmo sem ter dinheiro, hoje em dia pode usufruir da textura e da fisicalidade da fotografia em muitas galerias, como as de São Paulo, cuja qualidade é muito boa”. 

A ARTE!Brasileiros de número 30 trouxe um encarte dedicado à fotografia, com entrevista de Sarah Meistere artigo de Simonetta Persichetti sobre o crescente destaque do suporte em bienais, feiras, exposições e livrarias.

O ano de 2015 também foi rico em grandes exposições. No início de dezembro, a nova direção do Masp, em São Paulo, culminou seu processo de pesquisa do acervo e das expografias criadas por Lina Bo Bardi com o retorno dos cavaletes de vidro, estruturas criadas pela arquiteta, que foram removidos em 1996 e reprojetadas pelo escritório de arquitetura Metro. Ainda em São Paulo, destacam-se outras duas exposições, que permanecem abertas até fevereiro de 2016: no Itaú Cultural, Sergio Camargo: Luz e Matéria, com mais de 100 obras do escultor, a maioria delas pertencente a coleções privadas e agora apresentadas em conjunto pela primeira vez; e no MAM, o 34ª Panorama das Artes Brasileiras, que, segundo Leonor Amarante, renovou e respondeu “a uma provocação dos tempos, colocando na mesa a questão ambiental”.

Fora de São Paulo, vale lembrar duas mostras de peso: Tarsila e Mulheres Modernas no Rio, que esteve em cartaz até setembro no Museu de Arte do Rio (MAR), que ganhou texto inspirado de Bernardo Mosqueira, na edição 30. E a retrospectiva de Adriana Varejão, com obras inéditas, que esteve em cartaz até novembro no Espaço Cultural Airton Queiroz (Unifor), e foi visitada por Fernanda Cirenza.


Martin Corullon dá detalhes da retomada dos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, na entrevista abaixo:

Saiba mais sobre o 34ª Panorama da Arte Brasileira na entrevista com Paulo Miyada, abaixo:

O ano termina com duas notícias bem contrastantes no ambiente cultural – o incêndio no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, e a abertura do Museu do Amanhã, no Rio, num momento em que outras instituições museológicas fluminenses estão fechadas, como o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Numa chave mais otimista, vale lembrar: 2016 tem 32ª Bienal de São Paulo. O curador da mostra, Jochen Volz, anunciou uma lista parcial dos artistas participantes, com 54 nomes. Programe-se: Incerteza Viva acontece entre 10 de setembro a 12 de dezembro.

Em seguida, Jochen Volz fala da Bienal de São Paulo:

Até 2016!


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