Bienal do fim do mundo

A 3a Bienal del Fin del Mundo mantém as marcas de origem da primeira edição. De Ushuaia, a cidade mais austral do mundo – onde a mudança climática é experimentada de forma superlativa, longe de tudo, com a possibilidade de ver o mundo de outro ponto de vista -, levantou-se um slogan: estar no Fim do Mundo e pensar que outro mundo é possível; o que, por sua vez, levou a uma pergunta: que outro mundo é possível?

Na ocasião, a curadora-geral, diretora do Instituto Valenciano de Arte Moderno (Ivam), Consuelo Císcar Casabán, tentou responder a esse desafio sob o título Antropoceno, um termo cunhado pelo Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen, que acredita que a presença humana na Terra nos últimos três séculos provocou o impacto que definiu uma nova era, como eram o Paleolítico e Neolítico. Mas, paradoxalmente, a abertura da bienal foi suspensa por dois meses por causa de um fenômeno natural: os efeitos das cinzas vulcânicas lançadas pelo vulcão Puyehue.
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Consuelo Císcar, finalmente, desenvolveu sua proposta por meio de duas mostras, que reúnem diversas obras, de mais de 80 artistas: Os quatro elementos da natureza, com contribuições de Rafael Sierra, Alicia de Arteaga, Ana María Battistozzi, Ana Martinez Quijano e Ibis Hernández Abascal, e Arte e arquitetura, por José María Lozano.

A curadora, tendo em vista que “o mundo está preso em uma crise sem precedentes”, acredita que “as artes têm capacidade suficiente para modelar mensagens mais humanas”. Em busca de respostas, e habilitada pela amplitude do assunto, trabalhou sobre a integração, a miscigenação, a cooperação e a interdisciplinaridade das artes, por meio de encontros entre arte e arquitetura, arte e gastronomia, arte e esporte, arte e literatura, com intervenções em diferentes áreas da cidade.
No entanto, a proposta ambiciosa não tem uma correlação de visibilidade; o espaço de exposição central é novamente um antigo hangar da Marinha Argentina, onde podemos ver a exposição Os quatro elementos da natureza.

Neste hangar, Císcar planejou misturar os núcleos correspondentes à água, ar, terra e fogo com outro dedicado ao homem, por meio de uma série de obras atuais e históricas, muitas delas trazidas do Ivam.

No espaço, projetou uma planta que tem formato de estrela, feita de material reciclável, com acabamento modesto, onde se confundem obras de Julio Gonzalez, Richard Serra, Robert Rauschenberg, Robert Smithson e Gary Hill com propostas mais recentes, como as de Gabriel Valansi, com uma enigmática cidade construída com placas-mãe de computador; Raúl Farco, com um modelo de habitação unifamiliar; Klaus Berends, com uma câmara inflada, como uma reserva de ar para um pescador; e Armando Queiroz, que fala dos garimpeiros que chegaram à Serra Pelada motivados pela febre do ouro e, hoje, perambulam como “mortos-vivos de uma cidade fantasma em torno de um lago contaminado com mercúrio”.

Também no hangar, foi desenvolvido o eixo Arte e esporte – projetado para ser uma estância de esqui, caso a bienal ocorresse em agosto – com obras como esferas de pedra seccionadas de Alberto Bañuelos, esculturas de um carro e uma moto em aço inox de Carlos Cuenllas, e um vídeo de Avelino Sala brincando com uma bola em chamas.

Em outro espaço, a bienal reúne uma mostra de desenhos de arquitetos, mas merece mais atenção a intervenção de José Luis Miralles que, na Usina Velha, por meio de uma máquina, traduziu seus desenhos em música e luzes. Exatamente neste lugar, os organizadores da bienal sonham em criar um Museu dos Museus, que abrigue coleções temporárias de todo o mundo.


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