Istambul sem tempo e espaço

O trabalho?do artista cubano-americano Félix González-Torres, que morreu em 1997, é o ponto de partida da 12ª Bienal de Istambul. O título escolhido pelos curadores Jens Hoffmann e Adriano Pedrosa, Untitled, reporta à ideia de González-Torres sobre a permanente mudança de tempo e espaço. Afinal, ele viveu em um estado de deslocamento contínuo entre Cuba, onde nasceu, e os Estados Unidos, país do qual tinha cidadania. Seus trabalhos têm como fio condutor questões políticas contundentes, com fortes abordagens sociais e pessoais.

Ao contrário de outras bienais que se espalham pela cidade onde estão sediadas, a de Istambul está centrada num único local, o Antrepo, à beira do canal de Bósforo, e dividida em cinco exposições coletivas, circundadas por individuais que reforçam o tema em questão. O primeiro segmento, Untitled (Abstraction), é baseado no trabalho Untitled (Bloodwork – Steady Decline), de 1994 – por meio de uma linha diagonal num papel quadriculado, González-Torres representa o declínio do sistema imunológico no organismo de uma pessoa com o vírus HIV. Além dos brasileiros Lygia Clark, Adriana Varejão, Ernesto Neto, Lygia Pape, Rivane Neuenschwander e Leonilson, também dialogam com esta obra o argentino Jorge Macchi, o português Pedro Cabrita Reis, a libanesa Mona Hatoum e o colombiano Gabriel Sierra, entre outros.

O fio condutor do segundo segmento é Untitled (Ross), um dos famosos candy pieces do artista cubano. Os 80 kg de balas aludem ao peso ideal de um homem adulto, o mesmo de seu companheiro Ross Laycock, que morreu de Aids em 1991. Obras como The Black and White Diary, Fig. 5, da dupla dinamarquesa Michael Elmgreen e Ingar Dragset e Black on Black (Two Johns), de Juan Capistran, levantam questões sobre o tema homossexualidade. As fronteiras e os limites foram abordados por González-Torres no segmento Untitled (Passport), e o vídeo de Kutlu? Ataman, as fotos da série Marcados, de Claudia Andujar, e a instalação A Place to Call Home (Africa-America), de Hank Willis Thomas, discutem este tema.
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Em Untitled (History), do terceiro segmento, os curadores refletem sobre como a história pode ser escrita partindo da seleção e edição de fatos históricos. O ponto de partida é uma das dateline pieces de González-Torres. O artista Cevdet Erek aborda, na sua série Ruler Coup, a articulação entre tempo e espaço. O libanês Akram Zaatari e o argentino Adrián Villar Rojas mostram que a arte pode oferecer possibilidades críticas e criativas para a compreensão da história. Em Untitled (Death by Gun), trabalho realizado em 1990, o artista cubano lista as pessoas mortas a tiros nos EUA, de 1 a 7 de maio de 1989. A reflexão sobre a violência gerada por armas de fogo reúne trabalhos de artistas como Raymond Pettibon, Chris Burden, que inclui a documentação de sua performance Shoot, de 1971, e Mat Collishaw.

O projeto dos espaços expositivos é assinado pelo arquiteto japonês Ryue Nishizawa, vencedor do Prêmio Pritzker de 2010, que dá plasticidade e contribui para a leitura do conjunto. A Bienal de Istambul, que abriu suas portas em 17 de setembro, segue até o dia 13 de novembro.


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