Bienal do Whitney museum

Ao fundo, 45 pinturas em tela, Breakup de Nicole Eisenman

Fotos Welena Wolfenson

A nova Bienal do Whitney está sendo celebrada como uma das melhores exposições dos últimos tempos. O entusiasmo se deve não apenas a um generoso número de bons trabalhos, mas à curadoria de Elisabeth Sussman e Jay Sanders, que aprenderam com os erros de edições passadas. A bienal tem hoje uma programação feita para preencher toda a sua duração, criando fortes razões para voltar muitas vezes antes de seu encerramento.

Com muito menos artistas, é nítido o esforço de oferecer um contexto apropriado para cada obra. Como na marcante retrospectiva de Forrest Bess, ou, logo ao lado, onde Werner Herzog transfere generosamente o foco de si, para projetar o trabalho do artista holandês do século 17, Hercules Seghers, acompanhado de uma bela trilha feita pelo violoncelista Ernst Reijseger. Outros trabalhos em vídeo têm uma sala de projeção exclusiva, com ciclos curados pela dupla Thomas Beard e Ed Halter, cofundadores do espaço Light Industry, no Brooklyn, que já é referência, tanto em videoarte quanto em arte eletrônica.

O 4o andar foi inteiramente dedicado a um ambicioso ciclo de performances. Lá, o cineasta Charles Atlas vêm ensaiando para sua colaboração com o músico William Basinski, uma videoperformance que será improvisada em tempo real.

Há também a atualidade americana, refletida em muitas obras. Nas fotografias de LaToya Frazier, que expõe as deficiências do sistema de saúde da sua cidade. Em Dawn Kasper, que transferiu seu ateliê para o museu e mais parece um acampamento do movimento Occupy. Ou Kate Levant, que criou esculturas com detritos das fábricas abandonadas de Detroit.

Durante nossa visita, encontramos Andrea Fraser conversando com um grupo de alunos sobre uma de suas imagens – uma bolsa com uma foto de Obama estampada –, e ouvimos de um deles: “A bolsa representa a pesada herança deixada por Bush”. Ao abdicar de um tema, a curadoria fez seu maior acerto, permitindo à essa bienal estar sempre em transformação e criando mais do que uma exposição, um fórum para ideias e convívio entre artistas e público.

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Não é só rock’n’roll. Há muita arte rolando

Bandas ganham cada vez mais espaço em galerias, museus e, agora, na bienal do Whitney

Por Leonor Amarante

O binômio arte e rock faz parte do imaginário de algumas bandas que misturam sons às artes plásticas e promovem uma combinação de diferentes habilidades ou vocações, sem sair dos holofotes. Desde que Velvet Underground fez um pacto com Andy Warhol que deu, literalmente, uma banana para o mercado, mais e mais bandas de rock se associam às artes e expõem em galerias e museus. Músicos usam o metabolismo do corpo com o palco e aplicam gestos frenéticos às telas, às performances ou a simples desenhos. A Bienal do Whitney deste ano abriu um canal para o rock, deixando a banda The Red krayola, uma das mais consolidadas da geraçãonew wave, interagir com o público por meio do Skype.

Dessa vez, o rock entrou pela porta da frente de uma bienal, mas galerias e museus já haviam liberado seus espaços. Curadores, como Jérôme Sans, o ex-diretor do Palais de Tokyo de Paris e do Centro de Arte Contemporânea de Beijing, contribuíram para dar corpo ao “movimento”. Em 2008, Sans expôs obras de 20 músicos no Centre for Fine Arts (BOZAR), na Bélgica, na antológica mostra it’s not Only Rock’n’Roll Baby!, onde estavam, entre outros, Yoko Ono, Patti Smith, Brian Eno, David Byrne, Alan Vega, em um evento turbinado pelo Werchter Rock Festival.

Na capital alemã, antes da queda do muro, os neoexpressionistas Salomé, Luciano Castelli e Rainer Fetting integravam a banda Os Tarados de Berlim e um de seus controvertidos concertos aconteceu paralelamente à Bienal de Lyon, na França.

No Brasil, nos anos 1980, o pintor José Roberto Aguilar criou a Banda Performática da qual participava também o artista plástico, cantor compositor e poeta Arnaldo Antunes que, até hoje, se divide entre a música e as artes. No mês passado, foi a vez do multi-instrumentista Arnaldo Baptista, integrante de Os Mutantes mostrar desenhos, colagens, pinturas, enfim, tudo o que fez longe dos palcos. Um conjunto significativo de 130 trabalhos tomou conta da Galeria Emma Thomas, em São Paulo, marcando sua primeira individual. Para surpresa, a mostra revelou que ele está envolvido com as artes plásticas há mais de 30 anos e que só agora, por insistência da galerista Juliana Feire, decidiu mostrar. Tudo começou em 1982, quando Arnaldo sofreu um acidente e ficou em repouso. Alguns trabalhos psicodélicos cruzam com os de Davendra Banhart que também se dedica ao rock e artes. Ele já havia participado da mostra coletiva de inauguração da galeria e, em 2010, esteve na SP-Arte, e renova sua participação neste ano.

Diferente de outros músicos como David Byrne, ex-Talking Heads, que cursou escola de arte, Arnaldo foi sempre autodidata e só desenha pelo simples prazer de criar. Como costuma dizer Jérôme Sans para seus amigos músicos: “Use seus olhos para manter seus ouvidos abertos” ou “it’s not Only Rock and Roll, Baby!”.


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