Nunca vi Eduardo Cunha tão nervoso como na votação de ontem (quarta-feira, 1). E tão incapaz de disfarçar a sua face autoritária.
Cortava o microfone de deputados a torto e a direito, (ele aperta o botão) a pretexto de tempo esgotado, mas na verdade cortando a palavra de quem o acusava de atropelar o regimento por colocar de novo em votação, com ligeiras mudanças, PEC derrotada na madrugada anterior diminuindo a maioridade penal para 16 anos. Respondeu muitas vezes de forma ríspida a pleitos de deputados, com o dedo em riste e frases incisivas: “Vossa Excelência tem um minuto!” Não são atitudes esperadas de um presidente da Câmara dos Deputados, cujo maior atributo deve ser a imparcialidade.
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O tempo dos deputados que se opunham à manobra era medido a conta-gotas. Já o tempo de votação da PEC ele esticou ao máximo, a fim de garantir um quórum elevado e evitar surpresas desagradáveis para ele e seu grupo conservador de deputados do baixo clero, de partidos aliados e de oposição, que o adulavam, dando-lhe parabéns ao vivo e em cores, para constrangimento dos telespectadores da TV Câmara.
A irritação denotava não só a sua ansiedade em aprovar o que desejava, mas a evidência de que o cerco está se fechando em torno dele. No governo, não tem amigos, muito ao contrário. O presidente do Senado, Renan Calheiros quer distância dele e contesta abertamente as causas que ele defende. A Operação Lava Jato se aproxima via Janot, de quem se tornou desafeto pessoal. Até mesmo o senador Jader Barbalho, cujo passado todos conhecem sentiu-se à vontade para chamá-lo de ditador e ainda acusá-lo de enfiar “jabutis”, como a construção do Parlashopping em meio a projetos de lei de inúmeras cláusulas e ainda tripudiar declarando: “Esses jabutis não são gratuitos, em todos os sentidos”.
Mas o mais constrangedor foi ver e ouvir, por volta de 1h da madrugada deputados comemorarem a aprovação da PEC como torcedores comemoram o gol da vitória. Mal sabem eles que comemoraram um gol contra.
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