Pence para Trump

Foto: Reprodução/Facebook
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Donald Trump gostaria mesmo de um cão de ataque ao seu lado. Alguém como os línguas afiadas Chris Christie, governador de Nova Jersey e apoiador de primeira hora, ou Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara nos anos 90. Segundo fontes da campanha do milionário, até os últimos instantes do anúncio da nova parceria, a relutância do presidenciável parecia que iria, mais uma vez, descambar para a rebeldia. Mas prevaleceu, principalmente, a cabeça fria, e cada vez mais em controle, da filha Ivanka Trump Kushner. Pesou também a forte pressão do establishment do partido que se desesperava por um sinal claro de que o ideário conservador estaria bem aninhado na bagagem.

E foi assim que o ex-governador de Indiana, Mike Pence, se viu lançado à bordo. Analistas políticos imediatamente torceram os narizes para aquele que lhes parece inócuo. Um sujeito que nem é lá muito popular em Indiana, um Estado, diga-se, que sempre esteve firme na coluna de vitórias republicanas. O homem se recusou a disputar novamente o cargo que ocupava e jogou o partido numa sinuca de bico à procura de um substituto digno do Executivo.

Novamente os tais analistas parecem um tanto ranhetas. Pence é homem de sólidas credenciais conservadoras, especialmente no campo dos costumes. É querido da direita religiosa, para quem já ofereceu várias medidas legais que procuram coibir o direito ao aborto e, mais recentemente, na refrega sobre o uso de sanitários para trangenders. Numa foto recente reproduzida pelo país o então governador aparece assinando a proibição de entrada de transgender em banheiros que não sejam para o gênero sob o qual nasceram. Estava cercado por inúmeras freiras, padres, pastores e rabinos ortodoxos. Viu-se nisso uma clara interferência da Igreja nos assuntos laicos do Estado. Um pecado constitucional.

A ideia de um Vice-Presidente sem muito brilho, confessadamente pouco afeito à refregas na lama, cai bem para Trump, que suga os holofotes como fonte de energia e quer toda luz para si. Um outro mal criado discursando pelo país roubaria momentariamente esta celebridade. Mas não se dá apenas tratos ao ego. Pence pode colocar em jogo os Estados vizinhos de Indiana: Illinois, Ohio e, quem sabe, até Iowa, que tem periclitado em direção à rival Hillary Clinton. Cimenta também a banda dos ultra conservadores que ainda não se conformaram com a escolha republicana para estas eleições.

De todo modo, o brilho jogado sobre Pence foi rápido como um raio. No anúncio de seu vice, Trump dedicou 30 minutos de invectivas contra Hillary, Obama e a imprensa, para dispender apenas alguns parcos instantes de apresentação a seu parceiro. Isso foi na sexta-feira, 15, e a convenção republicana começaria na segunda-feira, 18 (até o dia 21), em Cleveland, Ohio. Ou seja: o vice será esquecido por um bom tempo.

De futuro incerto, a tal convenção faz tremer os alicerces republicanos. Teme-se tumultuo e vexame. Novamente, isso parece fazer parte apenas dos sonhos dos rivais democratas. Convenções políticas sempre tiveram um certo frenesi, choro e rangeres de dentes, mas costumam acabar em ressacas, muxoxos e um belo pulo avante nas pesquisas para o candidato coroado. Claro que houve exceções:  Os democratas em 1968 transformaram Chicago numa batalha campal, num fiasco e trouxe a perda das eleições para o candidato Hubert Humphrey. No dia 22 próximo se saberá se o festival de Trump terá destino semelhante. Esta coluna duvida desse drama. Coffee Party poderá ser cobrada por essa previsão na semana que vem. Até lá estará de olho no Republican Party.


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