Einstein pediu, o governo Vargas negou

Einstein não conseguiu o documento que pouparia a vida de Selma - Foto: Reprodução
Einstein não conseguiu o documento que pouparia a vida de Selma – Foto: Reprodução

Albert Einstein já era Prêmio Nobel de Física, professor do The Institute for Advanced Study, em New Jersey, quando procurou a embaixada do Brasil em Washington, para entregar uma carta que era um apelo: um visto para o Brasil para Selma Moos, alemã de origem judia. Viúva de Alfred Moos, primo de Einstein, Selma havia sido levada pelos nazistas de sua casa na Alemanha para o campo de concentração de Gurs, na França.

“Um parente meu, Sr. Rudolfo Moos, Rua Cardeal Arcoverde, 1992, São Paulo, Brasil, pediu um visto de imigração para a mãe dele, Sra. Selma Moos. A pobre mulher, com 64 anos de idade, está em um campo de concentração no sul da França, onde tem de viver nas mais terríveis condições. Seu filho pode muito bem e, claro, está disposto a cuidar completamente dela”, escreveu Einstein, aportuguesando o nome de Rudolf.

Na carta, dirigida ao embaixador Carlos Martins, Einstein afirma que ficará muito grato se o diplomata levar o caso à “benevolente atenção das autoridades de imigração” do Brasil. O problema é que naquela época, fevereiro de 1941, a política de imigração do Brasil não tinha nada de benevolente. No Estado Novo de inspiração fascista, o governo Getúlio Vargas chegou a vetar o desembarque de judeus em portos do País.

A carta na qual o Nobel de Física apela em vão ao governo brasileiro - Foto: Reprodução
Cópia da carta na qual o Nobel de Física apela em vão ao governo brasileiro – Foto: Reprodução

O embaixador Carlos Martins não era antissemita, mas também não chegava a ser um Souza Dantas, o diplomata brasileiro em Paris que contrariou a recomendação do governo brasileiro e concedeu em profusão vistos a judeus perseguidos pelo nazismo. Diante do apelo de Einstein, Martins consultou o Itamaraty e teve como resposta que “no momento, em vista das disposições em vigor, é de todo impossível atender à solicitação”.

Dezesseis anos antes, Einstein tinha conhecido um outro Brasil. Durante passagem pelo País, hospedado no apartamento 400 do Hotel Glória, no Rio de Janeiro, ele foi recebido com as honras devidas a uma das maiores personalidades do século XX. Visitou o Museu Nacional, o Instituto Oswaldo Cruz, o Observatório Nacional, foi recebido por ministros e por Artur Bernardes, então presidente da República. Também percorreu pontos turísticos, como o Pão de Açúcar, o Corcovado e a Floresta da Tijuca.

Ao final de oito dias, em 12 de maio de 1925, o idealizador da teoria da relatividade deixou o Brasil encantado com a “deliciosa mistura étnica nas ruas”. Oito anos depois, Einstein viajava pelos Estados Unidos quando Hitler chegou ao poder na Alemanha. Não voltou mais para o país onde nascera e integrara os quadros da Academia de Ciências de Berlim.

Selma Moos não teve a mesma sorte. Depois que o visto de imigração para o Brasil foi negado pelo governo Vargas, ela continuou em Gurs até que, em 6 de agosto do ano seguinte, foi “selecionada” para o campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia. Com a saúde muito debilitada, morreu no dia seguinte, no campo de trânsito de Drancy, ainda na França.

Selma Moos com os filhos. O caçula Rudolf (no colo) foi o único a sobreviver à perseguição nazista - Foto: Reprodução
Selma Moos com os filhos.  Só o caçula Rudolf (no colo) sobreviveu ao nazismo – Foto: Reprodução

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