O Brasil parece uma montanha russa?
Você, que acompanha o noticiário e o opiniário sobre o escândalo em torno do financiamento ilegal de campanhas eleitorais, tinha suas atenções divididas entre a expectativa da homologação das denúncias dos executivos da Odebrecht e a aparente melhoria das condições da economia.
Então, o ministro do STF Teori Zavascki, relator do processo, morre num acidente de avião.
Como é natural, nessas ocasiões, as primeiras notícias e especulações são muito importantes para formar a opinião massiva sobre o que nunca se saberá sobre a tragédia.
Na ocasião da morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, em plena campanha à Presidência da República, comentários irresponsáveis alimentaram teorias conspiratórias, e até hoje muitos brasileiros acreditam que o avião que caiu em Santos foi sabotado.
Nas primeiras emissões sobre o avião que caiu no mar de Paraty com o ministro do STF, uma repórter da GloboNews entrou no ar ao vivo de Brasília para comentar que o ministro estava ocupado com a análise das denúncias feitas por executivos da empresa Odebrecht no caso Lava-Jato.
Com todas as dificuldades naturais desse tipo de intervenção ao vivo, ainda sem confirmação da morte do magistrado, a jornalista “esqueceu” os nomes da maioria dos suspeitos citados na delação, que deveria ser homologada por Zavascki. Mas não esqueceu de citar os nomes do ex-presidente Lula da Silva e de sua mulher, Marisa.
Evidentemente, seja qual for a causa do acidente, nenhuma pessoa em pleno domínio das faculdades mentais vai considerar que a morte do ministro poderia interromper o processo. No entanto, o que fica no imaginário daqueles telespectadores mais suscetíveis a interpretações nebulosas são esses nomes lembrados pela repórter.
Caberia à âncora do programa jornalístico complementar a informação, citando, por exemplo, alguns dos 31 citados na referida delação, entre os quais brilham os nomes de Michel Temer, Renan Calheiros, Moreira Franco, Renan Calheiros, Romero Jucá, Geraldo Alckmin, Eunício Oliveira, José Agripino e outros autores do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, eleita em 2014.
Quanto aos procedimentos que se seguem, o STF deverá indicar um novo relator para o processo.
E cai no colo do atual ocupante do Palácio do Planalto a chance de indicar um novo ministro para a vaga que será aberta na Suprema Corte.
Como agora os ministros do Supremo se aposentam compulsoriamente apenas aos 75 anos de idade, essa seria sua única chance de aumentar sua influência sobre o STF.
Na condição de citado no escândalo do financiamento ilegal de campanhas eleitorais, o sr. Temer poderia abrir mão da indicação, deixando que o próprio colegiado do STF apontasse o substituto.
Seria demais esperar um gesto de desprendimento?
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