Manual do perfeito midiota – 51

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E o sr. Temer ainda tem ao seu lado, no Ministério da Justiça, um auxiliar que joga o jogo do encurtamento de seu mandato. Foto: EBC

Os jornais chamados de circulação nacional chamam a atenção, durante a semana, para o projeto que pretende colocar uma barreira na apuração do sistema paralelo de financiamento de campanhas eleitorais, conhecido como “caixa 2” – que é o cerne da chamada Operação Lava-Jato.

Eventualmente, personagens muito empenhados na aprovação de uma anistia aos políticos que se beneficiaram de dinheiro não contabilizado aparecem na mídia com declarações de estudada indignação, afirmando que essa é uma proposta imoral, e tal e coisa.

O discurso dos pizzaiolos de plantão inclui quase sempre algum raciocínio transverso pelo qual se pode concluir que está no forno uma receita para condenar alguns e blindar outros, segundo um código que ganhou muita popularidade entre os midiotas nos últimos meses.

O relator da proposta que é chamada cinicamente pela imprensa hegemônica de “pacote anti-corrupção”, deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS), desfila sua virgindade no noticiário e os editores esquecem que ele foi acusado, em 2015, de haver recebido doações ilegais de empreiteiras.

O nobre parlamentar comemorava, nesta semana, o adiamento da votação do projeto, usando o código segundo o qual “muitas pessoas do bem” se haviam articulado para corrigir distorções no seu texto.

Então, o cândido midiota fica aliviado, porque, segundo a mídia dominante, os paladinos da moralidade pública estão em campo, atentos e constantemente monitorados pelas câmaras e microfones do Jornal Nacional.

Só que não.

O que está em negociação é um complicado emaranhado de medidas que permitam manter em curso a “Lava-Jato” sem colocar sob risco os mandatos do atual inquilino do Planalto e seus associados.

As “pessoas do bem” a que se refere o relator do projeto são as que sustentam a frágil governabilidade do governo transitório – não importando de onde veio o dinheiro que lhes deu seus mandatos.

Só que há personagens poderosos tentando fazer com que a interinidade do sr.   Temer no Planalto seja feita em alta velocidade e curto prazo.

Só em São Paulo há dois ou três candidatos a uma possível eleição indireta à Presidência da República em caso de impedimento do presidente transitório, mas os mais notórios estão impedidos porque possuem cargo executivo.

O outro postulante, mineiro, finge-se de morto enquanto tenta se safar do fardo que acusações que lhe pesa às costas.

E o sr. Temer ainda tem ao seu lado, no Ministério da Justiça, um auxiliar que joga o jogo do encurtamento de seu mandato.

Mas não é essa a única agenda que interessa diretamente ao grupo que se equilibra no Planalto: está em curso a redução do Estado em várias frentes, uma das quais afetará diretamente a capacidade das instituições públicas de fomentar a agricultura e os negócios de pequeno e médio porte: o que se esconde no escuro das iniciativas de enxugamento do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal é a demanda dos bancos privados por mais espaço no mercado de financiamentos.

Existem vários estudos de economistas demonstrando que o Proer, nos anos 1990, provocou a concentração do sistema bancário privado, reduziu a concorrência entre as instituições financeiras e enfraqueceu os bancos públicos.

Na década seguinte, o fortalecimento do Banco do Brasil e da Caixa permitiu estimular o empreendedorismo, alavancou as safras agrícolas e ajudou a criar campeões de exportação.

Agora se trilha o caminho para trás, a passo acelerado.

Enquanto o midiota se emociona com o discurso da moralidade pública, os “homens bons” preparam o saque.


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