Flip começa com foco em poesia, discurso sobre a crise e críticas a Temer

Armando Freitas Filho e Walter Carvalho na mesa de abertura. Foto: Walter Craveiro/ Flip
Armando Freitas Filho e Walter Carvalho na mesa de abertura. Foto: Walter Craveiro/ Flip

Com a Tenda dos Autores lotada, assim como o espaço externo que abriga o telão aberto ao público, a 14a Festa Literária Internacional de Paraty começou nesta quarta-feira à noite com um discurso do curador Paulo Werneck sobre a crise, uma mesa de abertura descontraída, com o cineasta Walter Carvalho e o poeta Armando Freitas Filho, um grande sarau de poesia e algumas críticas ao presidente interino Michel Temer (PMDB).

Após uma rápida fala do diretor geral da festa, Mauro Munhoz, que destacou o maior foco em poesia nesta edição – a homenageada do ano é Ana Cristina Cesar (1952-1983) –, Werneck se referiu às dificuldades econômicas passadas pelo Brasil em 2016, especialmente pelas editoras e veículos de jornalismo. Sem se referir diretamente à situação política, o curador disse também que “a crítica literária, a autocrítica e toda a crítica” são muito benvindas nos momentos de crise.

Mais direcionado e contundente foi Armando Freitas Filho durante a mesa que se seguiu: “A poesia toca todas as coisas, inclusive as monstruosas, as mais horrorosas… Pode tocar num Temer, por exemplo”, disse ele, arrancando aplausos da plateia. O autor, que foi um dos grande amigos de Ana Cristina Cesar e espécie de curador póstumo de sua obra, dividiu a mesa com Walter Carvalho, autor do documentário Manter a Linha da Cordilheira sem o Desmaio da Planície, sobre o próprio Freitas Filho. “Ninguém olhou tanto tempo para mim”, brincou o poeta sobre sua relação com o cineasta. “Ficamos apaixonados”.

A Tenda dos Autores durante a mesa de abertura. Foto: Walter Craveiro/ Flip
A Tenda dos Autores durante a mesa de abertura. Foto: Walter Craveiro/ Flip

O filme foi exibido após o fim da mesa, que teve mediação de Eucanaã Ferraz, e transitou por assuntos referentes à poesia e ao cinema. “Não é um filme sobre o Armando, é um filme com o Armando”, disse Carvalho, que conviveu sete anos com o poeta. Visivelmente emocionado de participar da mesa e se dizendo um “patinho feio” na Flip – “porque sou um cara da imagem” – o cineasta revelou algumas das perguntas que se colocou ao decidir produzir o longa: “Como é que duas ou três palavras colocadas juntas me põe a chorar?”.

No fim da conversa, os dois debatedores falaram também sobre a obra e a personalidade de Ana Cristina César. Freitas Filho, que conviveu cerca de dez anos com a poeta, falou da intensa amizade e dos grandes embates que tiveram: “Porque tudo para ela era um problema para ser resolvido. Discutir verso livre por exemplo”. “Ela era uma poeta estranha, ninguém entendia”, completou.

Após o fim da mesa e da exibição do longa, um grande sarau ocupou o espaço externo ao lado da tenda. Críticas ao presidente interino ganharam força neste momento. Apresentado pela atriz Roberta Estrela D’Alva, do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, o evento começou com o já tradicional: “Primeiramente, fora Temer”. O poeta Chacal, um dos expoentes da poesia Marginal, seguiu dando nome aos bois: “Fora Temer, fora Globo e fora Cunha”. “Tem muito mais gente para cair fora, mas por enquanto ficamos com esses três”. Também participaram do sarau a inglesa Kate Tempest e a peruana Gabriela Wiener, que estarão em mesas de destaque na Tenda dos Autores durante a Flip.  

O poeta Chacal durante o sarau que encerrou a noite de abertura da Flip. Foto: Walter Craveiro/ Flip
O poeta Chacal durante o sarau que encerrou a noite de abertura da Flip. Foto: Walter Craveiro/ Flip

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