Argentinos compram ônibus para viajar pelo Brasil

Fotografia do ônibus com a bandeira da Argentina customizada com o nome da cidade dos donos do ônibus, Paraná, há cerca de 500 quilômetros da capital Buenos Aires. Foto: Reprodução do Facebook
Fotografia do ônibus com a bandeira da Argentina customizada com o nome da cidade dos donos do ônibus, Paraná, há cerca de 500 quilômetros da capital Buenos Aires. Foto: Reprodução do Facebook

Quando Santiago Alfíeri, um dos poucos contadores da cidade de Paraná, na província de Entre Ríos, na Argentina, há 480 quilômetros da capital Buenos Aires, decidiu, com outros dez amigos, que compraria um velho ônibus Mercedes-Benz, modelo 94, de um motorista nas margens da aposentadoria que o guardava como relíquia num município próximo, María Grande, para seguir a seleção argentina pelo Brasil durante a Copa, ele não esperava que o time pudesse chegar tão longe no principal torneio de futebol do mundo: domingo, às 16h, no Maracanã, a Argentina voltará a disputar uma final de Mundial depois de 24 anos distante de uma decisão, esta ainda mais especial por ser a inédita possibilidade de conquistar o título no território do seu principal rival no esporte e diante da algoz das últimas eliminações, a Alemanha.

A Copa, no entanto, parece em segundo plano para estes argentinos, se é que isso é possível. A ideia de comprar um ônibus para seguir a Argentina na Copa aconteceu da mesma forma costumeira que estas coisas surgem: em uma das várias rodas de amigos, cerveja e baralho, na casa de Santiago, em uma noite de janeiro de 2012. “Estávamos falando sobre a Copa e de repente alguém disse que seria lindo se todos nós pudéssemos ir acompanhar o torneio no Brasil. Então, alguém deu a sugestão de comprarmos um ônibus e irmos juntos. Na hora todo mundo se animou, riu, mas ninguém imaginava que se tornaria verdade”. conta o jornalista Álvaro Gabas, um dos membros do grupo. Durante o ano de 2012, os dez amigos viajaram juntos por cidades próximas para analisar as diversas oportunidades de automóveis que foram oferecidas, e a compra só foi finalizada em março de 2013, depois de cinco ônibus vistoriados e uma paixão instantânea pelo antigo Mercedes branco já sem os bancos de passageiros. “O dono fez um ótimo acordo conosco, aceitou o pagamento que nos era possível e ainda o contratamos para ser nosso motorista e mecânico durante a viagem”, diz Gabas.

A reforma do veículo durou até maio deste ano, foi feita em grande parte pelos próprios amigos aos finais de semana e feriados e custou cerca de R$ 40 mil reais, divididos em valores idênticos para cada um. Em seu interior, há um espaço de convivência com bancos parecidos aos de consultórios de advocacia e mobiliado com uma televisão de 37 polegadas, um aparelho de som potente e um PlayStation 3, uma cozinha americana com pia e forno e um quarto onde foram instalados cinco beliches pequenos. Nas paredes estão coladas todas as fotos do grupo desde o dia em que tiveram a ideia, na noite de janeiro de 2012, até a tarde em que a reportagem de Brasileiros os visitou, no Sambódromo do Anhembi, na zona norte de São Paulo, na segunda-feira (7) e no espaço tradicional dos bagageiros, o grupo abrigou uma grande churrasqueira, uma mesa onde os dez amigos cabem confortavelmente e uma tenda para os dias de chuva. “Sinceramente, não creio que nos falte algo”, brinca Santiago.

Em vários momentos, faltou dinheiro, tempo e paciência: surgiram brigas, dificuldades e, se não fosse o apoio financeiro de um dos maiores grupos de cerveja da Argentina, o projeto corria o risco de não dar certo. “Somos todos simples trabalhadores. O que nos ajudou foi que algumas empresas ficaram fascinadas com nossa história e resolveram ajudar, dando aporte de dinheiro e colaborando na divulgação do nosso sonho”, revela Gabas.  Uma dessas organizações construiu um site e uma fanpage no Facebook para acompanhar a viagem do grupo, que já tem mais de 14 mil curtidas. Todos os dias, Gabas desce do seu beliche mais cedo, prepara o café da manhã na cozinha improvisada, tira o seu celular do carregador e alimenta as redes virtuais com fotos do ônibus, dos churrascos, das chegadas em outras cidades, dos estádios, da recepções, dos problemas encontrados pelo caminho e dos vários argentinos que estão no Brasil durante esta Copa do Mundo.

Santiago, Gabas e os outros oito amigos ainda não sabem o que vão fazer com o ônibus depois da Copa do Mundo. “Estacionem em uma garagem e guardem como relíquia para seus filhos, netos, amigos…”, sugere a reportagem de Brasileiros. “Talvez, mas o mais provável é que a gente tenha que vendê-lo para comprar um outro ônibus, mais moderno, que aguente a ida de navio da Argentina até Portugal e ainda os quilômetros de estralada de lá até a Rússia para a Copa de 2018”, respondem. Nesta quinta-feira (9) pela manhã, o veículo saiu do Anhembi para sua última viagem no Brasil antes da volta pra casa: ainda nesta noite chegará ao Rio, na esperança de que o sonho do tricampeonato argentino se confirme diante da Alemanha, no domingo. Mas caso o time seja derrotado, o Mundial para eles já foi vencido. “Fizemos tantos amigos, conhecemos tantos lugares, nos encantamos tanto pelo Brasil, que o nosso resultado foi alcançado”, finaliza Álvaro.


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