Brasil tenta comprar voto contra Venezuela, diz chanceler do Uruguai

O chanceler interino José Serra. Foto:  Edilson Rodrigues/Agência Senado
O chanceler interino José Serra. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O governo brasileiro se disse surpreso e descontente com as declarações do Uruguai sobre a visita do ministro das Relações Exteriores, José Serra, ao país e voltou a se posicionar contra a transferência do comando do Mercosul para a Venezuela. Na semana passada, o chanceler uruguaio, Rodolfo Novoa, acusou o Brasil de tentar “comprar o voto” uruguaio na polêmica envolvendo a transição da presidência pro tempore do bloco.

Em audiência no Câmara de Deputados de seu país, Novoa também disse que José Serra foi ao Uruguai para tentar convencê-lo de mudar de opinião sobre negociações comerciais. “Não nos agradou muito que o chanceler [José] Serra viera ao Uruguai nos dizer —publicamente, por isso eu digo— que vinham com a pretensão de suspender a transferência [da presidência do Mercosul do Uruguai para a Venezuela] e que, se suspensa, nos levariam em suas negociações com outros países, como que querendo comprar o voto do Uruguai”, afirmou Novoa durante um encontro da Comissão de Assuntos Internacionais do Congresso uruguaio, no último dia 10, de acordo com o jornal El País

À época, o Uruguai exercia a presidência do bloco e queria entregá-la à Venezuela, seguindo a ordem alfabética que tradicionalmente determina a transmissão do cargo. Serra tentava convencer o país a permanecer na presidência até que uma solução fosse encontrada.

Novoa disse ainda que Brasil e Paraguai usam argumentos “eminentemente políticos” e que tem o objetivo de “fazer bullying para a presidência da Venezuela”. “Eu digo com todas as letras. Se pulam o jurídico, que é este livro que estou mostrando, que contém o corpo normativo [do Mercosul], e invocando razões que não estão aqui, querem burlar, erodir, , fazer bullying à presidência da Venezuela”, disse Novoa. “Essa é a pura verdade.”

Nesta terça-feira (16), o Ministério das Relações Exteriores convocou o embaixador uruguaio no Brasil, Carlos Daniel Amorín-Tenconi, para dar satisfações após as declarações de Novoa.

Durante a conversa com o embaixador, o secretário-geral do Itamaraty, Marcos Bezerra Abbott Galvão, pediu esclarecimentos sobre as falas de Novoa e expressou “profundo descontentamento” com a posição uruguaia.

Segundo as autoridades diplomáticas brasileiras, o Brasil defende uma presidência pro tempore do Mercosul “que tenha cumprido os requisitos jurídicos mínimos para o seu exercício” – que não seria o caso da Venezuela. 

Segundo o Itamaraty, Serra tratou com o chanceler uruguaio sobre oportunidades de mercado que os dois países podem explorar conjuntamente.

“Nesse contexto, o governo brasileiro recebeu com profundo descontentamento e surpresa as declarações do chanceler Nin Novoa sobre a visita do ministro José Serra ao Uruguai, que teriam sido feitas durante audiência da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara de Deputados uruguaia, no último dia 10 de agosto. O teor das declarações não é compatível com a excelência das relações entre o Brasil e o Uruguai”, criticou o Itamaraty.

*Com Agência Brasil


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