Repressão tenta abafar manifestações contra Temer que se espalham pelo Brasil

Imediatamente depois da decisão do plenário do Senado de afastar definitivamente Dilma Rousseff da Presidência da República, uma multidão desceu às ruas de todo o Brasil em protesto contra o resultado do impeachment e a ascensão de Michel Temer ao poder. A resposta veio rápido na forma de bombas de efeito moral e prisões praticadas pela Polícia Militar.

Em Porto Alegre, os manifestantes portavam cartazes denunciando o que chamam “golpe contra a democracia” e exigindo a saída de Temer. Por volta das 19h, o grupo deixou a Esquina Democrática e iniciou uma caminhada em direção ao Parque Farroupilha. Na Avenida João Pessoa, diante da sede do PMDB em Porto Alegre, um grupo que carregava um caixão escrito “democracia” incendiou o objeto. Alguns manifestantes mais exaltados depredaram o portão que dava acesso à sede do partido.

Foi quando aconteceu a primeira intervenção da Brigada Militar (BM). Os policiais dispararam uma bomba de gás em frente à sede do PMDB, no meio da multidão. Foi o princípio de uma correria generalizada, mas que durou poucos minutos. Instantes depois, os manifestantes estavam novamente reunidos e seguiram em caminhada.

Em Caxias do Sul, a polícia militar agridiu manifestantes que já haviam dispersado do ato contra o impeachment. 

Em São Paulo, a tensão chegou ao clímax por volta das 20h15, na Avenida Ipiranga, quando o grupo se aproximou do prédio da RBS, empresa de comunicação afiliada da Rede Globo. Os homens da BM formaram um cordão de isolamento ao redor do edifício e dispararam mais bombas de gás na multidão. Alguns manifestantes queimaram pneus no meio da avenida e tentaram revidar com pedras arremessadas contra os policiais.

A Polícia Militar dispersou com bombas e gás lacrimogêneo, por volta das 20h30, a manifestação que ocorria no centro da capital paulista contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e que também pedia a saída do presidente da República Michel Temer.

Quando a passeata estava na Rua da Consolação no cruzamento com a Rua Maria Antonia, bombas da PM foram lançadas nos manifestantes. Logo em seguida, rojões foram atirados nos policiais. A reportagem procurou a assessoria de imprensa da PM que disse não saber o que motivou o lançamento das bombas.

A ação da PM fez com que a passeata se dividisse em manifestações menores. Parte dos ativistas desviou da Rua da Consolação para a Rua Augusta e deu prosseguimento ao protesto. Outros, correram para a Praça Roosevelt, onde bombas e gás também foram lançados pela polícia. A intenção dos ativistas era encerrar a manifestação em frente ao jornal Folha de S.Paulo, na Rua Barão de Limeira. Segundo o Grupo de Apoio ao Protesto Popular (Gapp), ao menos uma pessoa foi ferida superficialmente por uma bomba da PM.

Em Brasília, a Polícia Militar reprimiu com violência e brutalidade a manifestação organizada para protestar contra o resultado do julgamento da presidenta Dilma Rousseff.

A caminhada começou ao lado do Ministério da Justiça – cujo titular, Alexandre de Moraes, sugeriu investir mais em armamento do que em educação para conter os problemas sociais do Brasil – rumo à Rodoviária do Plano Piloto. Já no trajeto, a PM começou a violência gratuita. Como se tivessem dando avisos, dispararam pequenos jatos de gás pimenta nas pessoas.

Já em Vitória (ES), o ato reuniu mais de mil manifestantes que saíram em direção à praça do pedágio da Terceira Ponte. Ao se aproximarem, a cavalaria já os aguardava. Um manifestante tentou diálogo com os policiais, que responderam posicionando o choque. O grupo sentou no chão e decidiu fazer uma assembleia, momento em que o batalhão começou a disparar bombas e balas de borracha. Pelo menos três pessoas ficaram feridas, vítimas de estilhaços de bomba e tiros de bala de borracha, entre eles um homem de 70 anos.

Sem violência

Em outras regiões, os protestos foram pacíficos.  Em Salvador, faixas e cartazes diziam “não” ao que chamaram de “golpe” e negaram se sentir representados por Michel Temer.

“Eu luto desde a ditadura militar. Lutei contra a tortura, lutei por um governo democrático. Continuo lutando contra um golpe, um golpe civil”, disse, emocionada, a professora aposentada, Raimunda Viana, de 63 anos. O grupo se dispersou por volta das 21h, em frente ao prédio da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), no bairro do Costa Azul.

Na capital carioca, a concentração foi na Cinelândia. Apoiados por um carro de som, os manifestantes deixaram a Cinelândia e partiram pela Rua Santa Luzia, onde fica a sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). Em frente ao prédio da entidade, os ativistas fizeram uma pausa e discursaram contra a posição da Firjan pelo impeachment de Dilma. Participaram centrais sindicais, entidades estudantis e grupos da sociedade civil, além de pessoas sem ligação com esses grupos.

Houve uma nova concentração em frente à Assembleia Legislativa, quando os ativistas ocuparam as escadarias do prédio e novamente discursaram contra o impeachment. Por volta das 21h15, os primeiros manifestantes começaram a se dispersar.

Por cerca de duas horas manifestantes ocuparam uma das principais vias do Recife, a Avenida Agamenon Magalhães. O ato foi convocado inicialmente pela Frente Povo Sem Medo, entidade que reúne movimentos sociais e partidos de esquerda, para pedir a saída do presidente Michel Temer do cargo e também teve a participação da Frente Brasil Popular. 

“Esse golpe tem um recorte muito específico, machista, misógeno, pelo fato da presidenta ser mulher. Mas vem também como um ataque aos direitos do povo. Esse tempo em que o governo interino tem governado só demonstrou a intenção de retirar direitos conquistados. E a partir de agora a gente vai ter um grande retrocesso nos direitos básicos, trabalhistas, por exemplo. Não é um golpe só na presidenta Dilma, mas nos direitos do povo brasileiro”, disse Ingrid Farias, integrante da Frente Brasil Popular.

 

 


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