Escolha de Índio para vice é uma temeridade

Um pequeno detalhe parece ter escapado das análises publicadas nesta quinta-feira sobre a indicação do deputado federal Índio da Costa (DEM-RJ), que não conheço e de quem nunca havia ouvido falar, para vice do candidato tucano José Serra.

E se Serra ganhar e, por algum motivo de força maior, for obrigado a se afastar temporária ou definitivamente da Presidência da República?

Sem entrar no mérito eleitoral da escolha, se o jovem Índio vai ou não agregar votos ao candidato, escolhido no sufoco já na prorrogação do monumental imbroglio demo-tucano dos últimos dias, o fato é que vice existe exatamente para assumir o cargo no caso de impedimento do titular.

Até ontem, no começo da tarde, quando seu nome foi anunciado, alguém poderia imaginar Índio da Costa sentado na cadeira de presidente da República do Brasil?

O mínimo que se pode dizer desta escolha é que se trata de uma temeridade. A história recente do Brasil está repleta de casos de vices que se tornaram presidentes: Café Filho, João Goulart, José Sarney, Itamar Franco, entre os que me lembro.

Mesmo em tempos de calmaria política, José Alencar, o atual vice-presidente, já ocupou mais tempo a cadeira de presidente da República, em substituição a Lula, do que o renunciante Jânio Quadros, por exemplo.

Aos 68 anos, José Serra joga a sua última cartada para chegar ao ambicionado cargo. Será que nos quadros do PSDB, do DEM, do PPS e do PTB, os partidos aliados da oposição, não havia nenhum outro nome com uma história política um pouco mais conhecida e confiável do que a de Índio da Costa, deputado federal em primeiro mandato, ex-vereador, cria do ex-prefeito Cesar Maia, de quem foi “prefeitinho” do Parque do Flamengo e secretário municipal, antes de chegar a Brasília?

Pelo noticiário que li ontem e hoje, nem o candidato José Serra o conhecia direito, tendo conversado com seu companheiro de chapa durante apenas 15 minutos, uma única vez. Se as próprias lideranças aliadas reunidas em brasília se mostraram surpresas com a escolha do nome de Índio, pode-se imaginar o espanto dos eleitores fora da cidade do Rio de Janeiro.

A questão nem é sua pouca idade – ficamos sabendo que Índio tem 39 anos -, argumento usado para dar um aspecto mais jovial à chapa, mas o fato de as pessoas terem recorrido ao Google, que bateu recorde de consultas, segundo meu colega blogueiro Ricardo Noblat, para saber de quem se tratava.

Estava pensando como os líderes demo-tucanos chegaram a um consenso em torno do seu nome, depois de dias, noites e madrugadas de reuniões. De quem teria partido a idéia? Ao ler esta manhã uma das muitas matérias da Folha sobre o assunto, descobri no meio de uma delas que Luiz Gonzalez, o todo-poderoso marqueteiro da campanha tucana, participou das conversas e foi decisivo para a escolha de Índio.

Lembrei-me imediatamente do processo de indicação de Celso Pitta para a sucessão de Paulo Maluf na prefeitura paulistana. Sem um nome que impusesse uma candidatura de consenso, Maluf encarregou seu então marqueteiro Duda Mendonça de encomendar pesquisas para encontrar o melhor nome para a ocasião.

Para surpresa dos coordenadores da campanha, Duda incluiu nas pesquisas qualitativas o nome de Pitta, de quem ninguém havia cogitado antes, para ver quem poderia ser o candidato de Maluf. E concluiu que o melhor perfil era o do obscuro e pouco conhecido secretário de Finanças, para criar um fato novo na eleição. E Celso Pitta, já falecido, um forasteiro na política paulistana, foi eleito prefeito. O final da história, no entanto, não foi dos mais felizes, como sabemos.


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