Cena do espetáculo Desterrados UE EX DES MACHINE Antropofágica, que integrou uma série em homenagem a Tadesz Kantor - Foto Alan Siqueira
Cena do espetáculo Desterrados UR EX Des Machine, que integrou uma série em homenagem a Tadesz Kantor – Foto Alan Siqueira

Os membros da Companhia Antropofágica são ágeis saltimbancos do teatro, diria Oswald de Andrade. Em abril de 2017, completam 15 anos de existência. Foi do ideal antropófago, teorizado por Oswald, que nasceu todo o movimento da trupe paulistana. Composta por mais de 30 pessoas – entre atores, diretores e outros profissionais do teatro -, a Cia Antropofágica decidiu começar as comemorações de aniversário em setembro deste ano, prolongando a festa até agosto de 2017. Serão ao todo 140 dias de apresentações.

A maratona TRAM(A)NTROPOFÁGICA é como um “filme da vida”, diz o diretor Thiago Reis Vasconcelos. Isso porque a Antropofágica vai revisitar todas as peças que montou nessa década e meia (diferentemente do que fizeram no aniversário de dez anos, restrito à seleção de algumas). Ao final do longo assoprar de velas, pretende levar ao público um novo espetáculo. Segundo Thiago, o trabalho batizado, por enquanto, de Opus 15 será uma síntese de toda a trajetória do grupo.

Bem à margem do circuito teatral, a Cia Antropofágica teve como primeira casa a rua. De forma independente, fazia seus próprios figurinos e cenários. O material foi crescendo e surgiu a necessidade de se fixar em um ambiente só seu. “Começou a ficar difícil ensaiar na rua, por conta do barulho e da movimentação”, contou Thiago. Foi aí que, em 2004, encontraram um primeiro espaço, o qual chamaram de Pindorama, em referência ao Eldorado de Oswald no Manifesto do Movimento Antropofágico. Situado na Barra Funda, na capital paulista, teve de ser abandonado um ano depois por falta de verba. Depois disso foram acolhidos pelo Tendal da Lapa, onde promoveram a oficina do ator antropofágico e outras atividades. Finalmente, em 2007, ocuparam o espaço no qual estão até hoje, o Pyndorama, agora grafado na estética característica dos poetas antropofágicos.

Ao acomodar integrantes de diversos lugares de São Paulo, dos extremos ao centro, o grupo mostra sua pluralidade,
que vai de encontro ao hibridismo valorizado em suas pesquisas teatrais, absorvendo o que existe de mais antropofágico no homem. Essas pesquisas realizadas pela companhia estão sempre ligadas a autores, procedimentos, gêneros e textos tradicionais do movimento criado em 1928. O primeiro espetáculo apresentado por eles, Macunaíma no País do Rei da Vela, foi realizado a partir de textos de Mario e Oswald de Andrade.

O projeto de retrospectiva propõe o encontro do artista com o público. Para Thiago, essa característica é inerente ao teatro: “O teatro tem essa maravilha, ele é uma ágora”. O diretor considera que, no momento político pelo qual o Brasil passa, os diálogos de peças como Trylogia ganham uma nova pertinência. Considerada um dos divisores de águas da companhia, a Trylogia Terror e Miséria no Novo Mundo é guiada pelo livro Pau-Brasil, o primeiro de Oswald, lançado em 1925. Painel amplo do País, contempla os tempos de Colônia, Império e República.

Desterrados – Ur Ex Des Machine é outra peça do grupo que merece destaque. Sua apresentação fez parte da programação em homenagem a Tadeusz Kantor, em 2015, no Sesc Consolação. O trabalho desenvolvido em torno da obra de Kantor vinha desde 2011, quando construíram a Karroça Antropofágica, uma máquina de intervenção urbana que realiza cortejos cênico-musicais pelas ruas da cidade. A iniciativa percorreu toda São Paulo, ocupando o espaço público com atividades culturais e dialogando com a população.

O projeto TRAM(A)NTROPOFÁGICA apresenta ainda encontros com personalidades do teatro, nos quais se discute temas importantes para a cena. Os Diálogos Antropofágicos já tiveram a participação de Marcelo Soler, da Cia Teatro Documentário, e Luciano Carvalho, do Grupo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes. Até dezembro, nomes como Ana Souto e Ney Piacentini também irão conversar com o público. O próximo diálogo acontecerá no dia 21 de outubro; será com os dramaturgos Mei Hua e Rogério Guarapiran, responsáveis pelas peças M. Isso Não é Uma Peça Feminista e Estudo para o Terror, respectivamente. Os palcos receberão, durante o mês de outubro, a continuação da Trylogia e, em seguida, entrarão em cena as peças do Programa I: Brazyleirinhas QI. Os 18 espetáculos e demais atividades acontecem na sede do grupo, o Espaço Pyndorama, e em outros palcos de São Paulo. As ações, datas e localidades são divulgadas mensalmente no site da companhia, www.antropofagica.com


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