Capitão Fantástico, um choque entre a natureza e o consumismo

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Comer o coração de um animal após abatê-lo é um costume de tribos indígenas norte-americanas, que se traduz como forma de respeito à vítima e à natureza.  Se hoje essa prática não é muito comum, no filme Capitão Fantástico ela é  significativa.

Dirigido por Matt Ross, o longa-metragem, que estreou no ano passado em Sundance e coleciona prêmios em Cannes, Roma, Seattle e Palm Springs, começa com Ben (Viggo Mortensen, que concorreu ao Oscar de melhor ator) e seus seis filhos camuflados no meio da floresta em busca de alimento. O mais velho consegue caçar um veado pela primeira vez e segue a tradição nativa, devorando o órgão que parara de bater há pouco. Seu pai lhe dá, então, um atestado de “coragem e maturidade”.

Ao lado da esposa, Leslie (Trin Miller), Ben cria os filhos isolados na natureza. A ideia é educá-los na contracorrente dos valores mercadológicos da sociedade. Sua referência é o filósofo norte-americano Noam Chomsky, cujo aniversário é comemorado pela família no lugar do Natal.

As crianças têm nomes inventados pelos pais, lutam, escalam, leem obras clássicas, caçam, meditam e praticam duros exercícios, tendo a emancipação intelectual, o conhecimento e a autossuficiência como bandeiras. Uma de suas atividades é a roda de conversa que fazem diariamente para debater os assuntos abordados nos livros que o pai recomenda. Autores como Vladimir Nabokov, Jared Diamond e George Eliot estão no repertório.

Devido a um problema familiar, Ben é obrigado a viajar  com a família do estado de Washington até o Novo México, nos Estados Unidos. Acostumados com métodos de sobrevivência primitivos, como a caça, banhos no rio e o uso de esteira para dormir, a família cai na estrada em um antigo ônibus para enfrentar seu maior desafio: a chamada civilização, ou a vida na cidade grande.

Cenas emblemáticas marcam esse grande choque cultural. Seja quando as crianças se deparam com pessoas obesas, formato físico até então inimaginável, ou quando param em uma lanchonete fast-food e ficam tentados com a comida junk. Assim os filhos começam a questionar as regras impostas pelo “Capitão”.

O contato com os outros familiares, principalmente o avô bem sucedido, reforça a convicção de que nunca tiveram liberdade de escolha. Irritado com o princípio de motim em sua tripulação, Ben passa a cometer exageros e tomar decisões precipitadas, indo na contramão dos valores que pregou durante a vida.

Misto de comédia e drama, Capitão Fantástico estabelece uma forte crítica ao capitalismo, o consumismo exacerbado e a hipocrisia da educação na sociedade urbana. Em segundo plano, também critica o modo totalitário com que Ben maneja o timão familiar, de acordo com o projeto de vida que ele enxerga como ideal.  Nessa batalha ideológica, quem sai ganhando é o espectador.

 

 

 

 

 


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