Cronicamente viável

A cineasta Anna Muylaert. Foto: Gleeson Paulino
A cineasta Anna Muylaert. Foto: Gleeson Paulino

Divulgado em cartazes que expunham frases provocativas como “a destruição da dignidade social pode virar característica cultural”, “patrão sacana tem que viver com medo” e “revoltar-se com a realidade pode trazer diversos males à saúde e nenhuma solidariedade”, Cronicamente Inviável, do cineasta Sergio Bianchi, foi exibido em 2000. Restrito a um diminuto circuito de salas de cinema, o filme dividiu opiniões ao retratar um País supostamente fadado à desesperança, inviável e inerte pela indiferença secular dos que, em benefício próprio, mantinham as castas de nossa sociedade devidamente invisíveis e praticamente intactas.

Quinze anos separam o filme de Bianchi de Que Horas Ela Volta?, o celebrado longa-metragem da cineasta paulistana Anna Muylaert. Nessa década e meia, muita coisa mudou no País – sobretudo na estruturação da perversa pirâmide social explicitada em Cronicamente Inviável. Emblemático por flagrar um Brasil em transição, o drama, baseado em roteiro escrito por Anna ao longo dos últimos 20 anos, tem causado comoção e despertado profundas reflexões em castas veladas da sociedade brasileira. Para quem ainda não viu o filme, ele conta a história banal da doméstica Val (Regina Casé), pernambucana que, enquanto se dedica à criação de Fabinho (Michel Joelsas), filho do abastado casal paulistano Bárbara (Karine Teles) e José Carlos (Lourenço Mutarelli), se distancia por 13 anos de sua própria filha, Jéssica (Camila Márdila). Segregada do convívio com a mãe, ela cresceu no interior de Pernambuco e vai à São Paulo para prestar vestibular na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. A chegada da jovem – articulada, altiva e cidadã, ao contrário da mãe – tira do eixo a frágil normalidade do ambiente em que Val e os patrões exercitam mecanismos diários de manutenção do separatismo de classes escancarado pelo sociólogo Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala (1933).           

Desde janeiro deste ano, ocasião em que o filme arrebatou júri e público do Sundance Film Festival, nos Estados Unidos, e inspirou a criação de uma premiação inédita para consagrar as atuações de Regina e Camila, Que Horas Ela Volta? persegue trajetória ascendente. Depois do sucesso em Sundance, despertou a empatia do público do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, e conquistou a mostra Panorama, do Festival Internacional de Cinema de Berlim, na Alemanha – premiação assegurada com mais de 30 mil votos da plateia. Apoiado em críticas elogiosas, o quarto longa-metragem de Anna (antecedido por Durval Discos, de 2002, É Proibido Fumar, de 2009, e Chamada a Cobrar, de 2012) também despertou o interesse de milhares de espectadores europeus – atualmente, está em cartaz em 14 países. Nos Estados Unidos, atingiu 98% de críticas positivas, segundo o portal Rotten Tomatoes, que ranqueia os melhores filmes em cartaz no circuito norte-americano por meio da compilação de análises publicadas nos veículos de imprensa daquele país.   

À frente de Fabinho  (Michel Joelsas) e José Carlos (Lourenço Mutarelli), Jéssica (Camila Márdila) conhece o prédio sede da FAU, faculdade em  que pretende  formar-se arquiteta. Foto: Aline Arruda/Divulgação
À frente de Fabinho (Michel Joelsas) e José Carlos (Lourenço Mutarelli), Jéssica (Camila Márdila) conhece o prédio sede da FAU, faculdade em que pretende formar-se arquiteta. Foto: Aline Arruda/Divulgação

O filme entrou em cartaz no Brasil em 27 de agosto. Duas semanas depois, foi nomeado pelo Ministério da Cultura para disputar a pré-seleção da categoria Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2016. Em crítica escrita para o blog do Instituto Moreira Salles, o jornalista José Geraldo Couto atribuiu a Que Horas Ela Volta? a relevância de dois filmes consagrados, Central do Brasil (1998), de Walter Salles, e Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Kátia Lund. Para Ronaldo Pelli, jornalista do diário carioca O Globo, o filme demonstra como o cinema atual tem procurado retratar transformações positivas em nossa sociedade – algo perceptível, segundo ele, em títulos recentes como O Som ao Redor (2012), de Kléber Mendonça Filho, e Casa Grande (2014), de Felipe Barbosa. A representação cinematográfica dos efeitos da inclusão social foi rotulada por Pelli de “Estética do Pós-Fome”, em alusão ao fato de, desde 2013, o Brasil ter saído do Mapa da Fome da ONU e ao manifesto Eztetyka da Fome, escrito por Glauber Rocha, em 1965.

Desprezando a prática cinematográfica sem vínculos com a realidade brasileira, Glauber acreditava que, naquele momento, cabia aos cineastas escancarar as mazelas de um País assolado pela sina de terceiro-mundista, herança histórica agravada com a negação de cidadania imposta por uma ditadura excludente. “O que fez do Cinema Novo um fenômeno de importância internacional foi justamente seu alto nível de compromisso com a verdade. Foi seu próprio ‘miserabilismo’, que, antes escrito pela literatura de 1930, foi agora fotografado pelo cinema de 1960; e, se antes era escrito como denúncia social, hoje passou a ser discutido como problema político”, defende Glauber em um dos trechos do manifesto.

Levantar questões sociopolíticas sem tingir o drama de Val e Jéssica sem dicotomia, maniqueísmo e partidarismo é um dos trunfos de Que Horas Ela Volta?. Na edição de agosto de Brasileiros, abordamos o filme e entrevistamos Anna Muylaert e Regina Casé. As conversas foram realizadas um mês antes da estreia nacional do longa-metragem. A expectativa de Regina com relação à resposta do público local foi assertiva. “No Brasil, deve haver outras reações, mas a riqueza do filme está em falar de diferentes voltas, de várias formas de poder e de amor, e de questões complexas, muito contrastadas, sem ser simplista. Todas as personagens passam por questionamentos. É como um efeito dominó emocional.”

Como ocorre com o elenco do filme, a reação em cadeia dos espectadores de Que Horas Ela Volta? é perceptível desde sua chegada aos cinemas brasileiros. Enquanto esta reportagem era redigida, o filme atingiu a marca de 350 mil espectadores no País, dias antes de chegar ao primeiro mês de exibição. Dezenas de manifestações de anônimos, de diferentes classes sociais e profundamente tocados com Que Horas Ela Volta?, entopem todos os dias a caixa de mensagens do Facebook de Anna Muylaert (leia três desses depoimentos na página 37).

A “terapia” provocada pelo drama de Val também é perceptível em textos publicados em veículos da imprensa local. Em artigo para o jornal Folha de S. Paulo, o psicanalista Contardo Calligaris enfatizou a mensagem perseverante de Que Horas Ela Volta?. “Jéssica, mesmo empobrecida, continuará se dando o direito de sentar na sala, dizer o que pensa e tentar o vestibular numa escola de elite. Graças às Jéssicas, pode acabar a sociedade de castas no Brasil.” Opinião compartilhada pelo jornalista Leonardo Sakamoto em seu blog no portal UOL. “Que Horas Ela Volta? é um filme obrigatório, pelo incômodo que provoca ao ter a coragem de falar em esperança nesses tempos em que achamos que qualquer luz no fim do túnel pode ser um trem.”

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Periférica, mas também presente no filme, a discussão sobre o protagonismo feminino em Que Horas Ela Volta? ganhou força em episódio polêmico, dois dias após a estreia nacional. Em  exibição, seguida de debate, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Recife, acompanhada dos amigos Cláudio Assis e Lírio Ferreira, Anna mal pôde dialogar com o público sobre seu filme, devido às intervenções dos dois cineastas locais que, segundo relatos dos presentes, estavam embriagados e proferiram uma série de comentários machistas. O episódio culminou em punição severa da Fundaj: por um ano, os diretores de Amarelo Manga (Assis) e Baile Perfumado (Ferreira) estão proibidos de exibir produções ou participar de eventos na fundação. Na exibição de seu novo filme no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, realizado no final de setembro, a despeito dos elogios à Big Jato, eleito o melhor filme da mostra, Assis foi vaiado e saiu do palco sob gritos efusivos de “machista” e “não passarão”.

Supostamente  felizes em seus círculos sociais, Bárbara (Karine Teles) e  José Carlos (Lourenço Mutarelli) vivem relacionamento em crise. Foto: Aline Arruda/Divulgação
Supostamente
felizes em seus círculos sociais, Bárbara (Karine Teles) e
José Carlos (Lourenço Mutarelli) vivem relacionamento em crise. Foto: Aline Arruda/Divulgação


Para tratar dessa e de outras questões, e recordar episódios de sua trajetória, Anna Muylaert recebeu a reportagem de Brasileiros em sua casa, na zona oeste de São Paulo, para um bate-papo aprazível. A seguir, os melhores momentos da conversa com a diretora, que aos 8 anos de idade tomou gosto por contar histórias ao ganhar uma câmera fotográfica Kodak Instamatic e passar a escrever relatos, acrescidos de fotos, dos encontros de sua família.         

A vida em um “hotel”
Cresci na casa dos meus pais convivendo o tempo todo com empregadas. Quando saí de lá, aos 20 ano, não tirava o lixo do quarto, não sabia arrumar a própria cama. Era completamente dependente. Foi então que percebi que estava afogando em minha própria sujeira. Questões como essa, a inutilidade de grande parte da elite, que vive como se estivesse em um hotel, estão em Que Horas Ela Volta?.

De hippie A yuppie
Quando conheci o André (o músico André Abujamra, ex-marido de Anna e pai de José, 20, o primogênito da diretora – o segundo, Joaquim, 15, é filho do artista gráfico e pintor Marcio Antonon), minha autoestima era zero. Ele foi muito importante para mim. Era final dos anos 1980 e meu pai (o jornalista e escritor Roberto Muylaert) já não era mais aquele cara de esquerda dos anos 1970. Era ‘o cara’ da Bienal, da TV Cultura (Roberto foi presidente da Fundação Bienal e da Fundação Padre Anchieta, que dirige a emissora paulistana), um homem importante, vivia sempre de terno. Uma transição que aconteceu para muita gente daquela geração, muitos saíram do hippie direto para o yuppie. Passei minha infância em Paraty, vivia descalça. Homossexualidade era uma coisa quase oculta no Brasil, mas desde pequena eu convivia com gays. Fui criada nesse ambiente liberal, bem anos 1970. Vivia cercada de intelectuais, gente bacana, maconha… Nos anos 1990, a maioria dessas pessoas foi para o lado da grana. Quando conheci o André e a família dele, em 1988, voltei a conviver em um ambiente onde o dinheiro não tinha esse peso.

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Conquista da altivez
A mulher tem enorme dificuldade de subir no palco, ao contrário do homem, que faz isso a qualquer momento, porque sempre foi condicionado a se sentir pronto para receber os louros do trabalho. Demorei muito para conseguir fazer o mesmo. Tive de ter muita certeza de quem sou. Não fosse o fato de ter tido filhos acho que jamais teria chegado a essa postura. Ser mãe coloca a mulher em um lugar diferente. No meu caso, fez com que eu sentisse uma força enorme e também percebesse como o ego desmedido pode ser algo muito feio. Começar a trabalhar nas minhas coisas foi algo, que me deu muita força. Somente depois que fiz o Durval Discos é que meu nome começou a aparecer, mas eu já era responsável por muitos sucessos, entre os vários trabalhos que eu havia feito para a TV (Anna fez parte dos núcleos de criação de dois programas infanto-juvenis da TV Cultura que foram recordistas de audiência, No Mundo da Lua e Castelo Rá-Tim-Bum). Fiz análise. Fui aceitando cada vez menos esse tipo de situação. Hoje, não fecho trabalhos sem crédito e dinheiro justo.

O caso Fundaj
Cláudio e Lírio são meus amigos. Não fiquei surpresa com o que aconteceu no Recife, porque sei que eles fazem isso. Admiro muito o trabalho deles. Com eles aprendo sobre cinema e política. Fico chateada que a discussão (sobre protagonismo feminino) tenha sido aberta na imprensa tendo como estopim dois caras que respeito, mas é fato que as pessoas não aguentavam mais o coronelismo que envolve os dois, no Recife. Mas já passei por coisas bem piores. O que sinto, com isso, é que tenho de desenvolver uma agressividade, um instrumento que, culturalmente, não é dado às mulheres.

Machismo e coronelismo
O machismo não é só violência contra a mulher. É um sistema de valores criado pelo homem, baseado em hábitos supostamente masculinos, como o trabalho fora de casa, algo que vem desde os tempos em que o homem saía para caçar, e resultou em poder, sucesso e riqueza. Em Mal-Estar da Civilização, Freud coloca em xeque esse sistema que valoriza as premiações, as comendas e os lava-pés do poder, criados por homens brancos, heterossexuais e ricos. No Brasil, essa lógica levou ao coronelismo, que não é só contra a mulher, mas contra todos que são julgados inferiores. Que Horas Ela Volta? fala desse sistema de valores e atingiu um nível de sucesso que pode me colocar no “coronelato” do cinema brasileiro, mas eu não quero vestir essa roupa. Prefiro ter conexão com minha arte, um lugar onde não existem coronéis.

Por um mundo feminino
Quando vi a foto do menininho curdo morto à beira-mar, na Turquia. e pouco depois as pessoas compartilhando nas redes sociais desenhos em que ele está deitado em um bercinho, como se estivesse dormindo em vez de morto, não tive como não pensar que ele foi vítima de uma sociedade baseada em valores masculinos. Não digo que o mundo devia ser dominado pelas mulheres, mas, se vivêssemos em uma sociedade onde fosse levado em conta o lado feminino do ser humano e de todos os seres vivos, talvez, esse seria um mundo onde não haveria meninos mortos à beira-mar. Talvez ele estivesse agora em um berço de verdade, protegido, porque a mulher, ou o lado feminino do homem, não iria deixar que tragédias como essa acontecessem.

Casa tomada
O Som ao Redor foi um filme que me causou frisson, porque ideologicamente diz  o mesmo que eu quis dizer em Que Horas Ela Volta?, no sentido em que Kléber joga luz sobre seres invisíveis de nossa sociedade. Não queria um final de novela para o meu filme. Não queria que a Jéssica se tornasse empregada como a mãe, se casasse com um homem rico, ou com o patrão, mas também não sabia que fim dar à história até que em julho de 2013, seis meses antes de começar a filmar, tranquei-me em casa e enlouqueci. A Bárbara Álvarez (cineasta argentina que assina a direção de fotografia de Que Horas Ela Volta?) me deu um livro do Julio Cortázar (a compilação Bestiário) que tem o conto Casa Tomada, que eu havia lido há muito tempo e fala de uma casa em que tudo está fora do lugar, como no meu filme. Foi aí que tive a ideia de que Jéssica vinha para São Paulo como cidadã. Vinha para ser estudante da FAU, uma escola símbolo, formada por professores de esquerda, que ainda pensam na arquitetura como utopia de mudança social. Quando tive essa ideia, em duas semanas o roteiro estava finalizado.

Ingresso, acrescido de mensagem manuscrita, enviado por um espectador a Anna Muylaert. Foto: Arquivo Pessoal
Ingresso, acrescido de mensagem manuscrita, enviado por um espectador a Anna Muylaert. Foto: Arquivo Pessoal


Caminho sem volta
É evidente que, historicamente, estamos em um momento em que a Jéssica entrou na piscina e dona Bárbara está muito brava. Só que esse momento de revolta de dona Bárbara vai ter de passar, porque Jéssica não tem como voltar atrás. Os 150 mil negros que, nos últimos três anos, ingressaram nas faculdades a partir da lei de cotas não têm como voltar atrás. O que está acontecendo agora é uma implicância natural, de uma elite preguiçosa, que age como eu agia em minha adolescência, como se vivesse em um hotel. Falo, com propriedade, porque nasci assim, fui assim por muitos anos, mas nunca valorizei a ignorância. Há pouco tempo, ouvi uma grã-fina dizer, como se eu fizesse parte do grupo dela: “Para nós – acostumados a ir à Europa -, com os aeroportos parecendo rodoviárias, a saída é ir às praias exclusivas do Brasil”. Com o sucesso internacional do filme, passei o ano inteiro indo para a Europa. Fui, em todos os meses de 2015, exceto em março. Essa postura de achar que é correto viver em uma nação com 10% de elite privilegiada e 90% de “rodoviários” não tem nada a ver com o pensamento europeu. Isso não é chique. Nos países mais desenvolvidos da Europa todos têm direito a escola, saúde e direitos básicos. Essa ideia, de parte da elite brasileira, de que os mais pobres não devem ocupar restaurantes, aeroportos, é para lá de cafona. Mentalidade de quem olha apenas para o próprio umbigo em vez de defender interesses do País.

Nação ou shopping center?
Estou certa de que não tem volta, e não estou fazendo futurologia. Falo isso com tranquilidade porque não sou filiada a partidos e minha postura política não é partidária. Sou uma artista, e não falo em nome de ninguém. Veja o que aconteceu com as conquistas femininas dos anos 1960. Claro, a igualdade de gêneros ainda é algo distante, mas, hoje. Não tem como alguém chegar para a mulher e dizer: “Volte já para o tanque!”. No Brasil, há dez anos 22% das empregadas dormiam na casa dos patrões. Depois da PEC das Domésticas (o projeto de emenda constitucional sancionado em 2013, que estabeleceu direitos trabalhistas aos empregados domésticos), não chegam a 2%. A patroa e o patrão estão batendo panela?! Pode ser que batam por mais um ano, mas uma hora eles entenderão que não tem mais volta. O sucesso do filme e o fato de ele emocionar pessoas de diferentes classes sociais demonstra que sua mensagem está acima de qualquer questão partidária. A elite brasileira tem de reavaliar algumas regras legadas por Portugal, como o gosto pelo ócio em vez do negócio (tese defendida pelo historiador Sergio Buarque de Holanda no clássico Raízes do Brasil, de 1936), parar com essa preguiça, sair da rede e somar forças para, juntos, construirmos uma nação de verdade e não um shopping center para menos de dez por cento de privilegiados. Nossos problemas ainda são enormes, como, por exemplo, a questão da educação, que evoluiu muito pouco, mas houve, nos últimos anos, uma série de mudanças, no sentido de o Estado tratar os brasileiros um pouco mais como filhos.

O registro do último dia de filmagens, 17.2.2014, de "Que Horas Ela Volta?". Foto: Arquivo Pessoal
O registro do último dia de filmagens, 17.2.2014, de “Que Horas Ela Volta?”. Foto: Arquivo Pessoal

Lula x Dilma
Alguém diz que o Lula é barrigudo? No entanto, viviam enfatizando que Dilma estava gorda antes de ela perder peso. Ninguém dizia que o Lula se vestia mal, mas vivem falando das roupas da Dilma. Isso acontece porque os homens estão protegidos pela lei vigente. A mulher, não. Ela tem de ser uma boneca que, ao longo dos anos, não envelhece, não ganha peso ou cabelos brancos. As pessoas têm certo gozo de bater em mulher. Falam da presidente com um ódio reacionário que vai além da questão política e chega à questão de gênero. Nesse sentido, adoraria que meu filme levasse à compreensão de que temos de ter um olhar mais humanista e menos partidário.

Oscar
Não tenho grande expectativa. O filme faz uma linda carreira internacional e, como fomos os escolhidos do Brasil para representar o País no Oscar, faremos agora o trabalho necessário para tentar uma nominação entre os cinco. Mas ainda é cedo para criar expectativas. Meu maior objetivo, hoje, é fazer o filme chegar a mais pessoas no Brasil porque aqui, além de ser um filme, ele é um espelho. Meu maior objetivo é que o filme chegue ao público e gere debates.

Perseverança
Tive, na Espanha, uma experiência incrível com um crítico do El País (o jornalista Carlos Boyero, que destacou Que Horas Ela Volta? como filme da semana na resenha Siempre la Lucha de Classes publicada em 26 de junho). Ele é considerado um dos grandes críticos de cinema de lá, veio conversar comigo, e disse: “Tenho apenas uma questão: existem vários filmes de empregada, alguns muito bons, mas os últimos 15 minutos do seu filme são muito subversivos. Uma bomba. Quero que você fale apenas sobre isso”. O fato de haver um final com esperança inverte o clichê dos filmes sobre empregadas domésticas porque, na maioria deles, a história sempre acaba mal. Não quis um final feliz. Apenas que a Val fosse colocada de volta ao próprio eixo. 

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