O sertão volta ao horário nobre

Rodrigo Santoro, o Afrânio de Velho Chico, é dirigido por Luiz Fernando Carvalho, em Baraúna, no Rio Grande do Norte. Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação
Rodrigo Santoro, o Afrânio de Velho Chico, é dirigido por Luiz Fernando Carvalho, em Baraúna, no Rio Grande do Norte. Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação

Velho Chico, a nova telenovela das 21h da Rede Globo, debutou na grade da emissora carioca no dia 14 deste mês. Com dramaturgia de Benedito Ruy Barbosa e direção de Luiz Fernando Carvalho, em meio a uma saga familiar que atravessa três gerações, do fim dos anos 1960 até os dias atuais, a produção promete apresentar aos telespectadores de todas as regiões do País a exuberância natural do rio São Francisco e a riqueza ancestral do sertão e da caatinga. O retorno do Nordeste como cenário de uma trama global em horário nobre encerra um longo ciclo de hegemonia das produções ambientadas no eixo Rio/SP. Afinal, lá se vão quase dez anos desde que Paraíso Tropical – novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, com direção de Dennis Carvalho, exibida em 2007 – teve parte inicial de sua trama desenvolvida em locações nos litorais de Pernambuco, em Porto de Galinhas, e da Bahia, em Itacaré, Porto Seguro, Trancoso, Arraial D’Ajuda e Ilhéus. 

Ambientada na fictícia cidade de Grotas de São Francisco, Velho Chico teve mais de 500 cenas filmadas em locações do semiárido e da caatinga nordestina, sobretudo às margens do rio São Francisco,  no distrito Povoado Caboclo e nas cidades Olho D’Água dos Cajados, em Alagoas, Baraúna, no Rio Grande do Norte, São Francisco do Conte, Cachoeira e Raso da Catarina, na Bahia.

Com requintes de superprodução, a novela chega à grade da emissora cercada de grande expectativa, sobretudo com relação a um possível aumento da audiência experimentada por sua antecessora, A Regra do Jogo, de João Emanuel Carneiro, com direção de Amora Mautner, que registrou índices medianos .

O ator Chico Diaz, que interpreta o vaqueiro Belmiro dos Anjos, em cena da primeira fase de Velho Chico, às margens do rio. Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação
O ator Chico Diaz, que interpreta o vaqueiro Belmiro dos Anjos, em cena da primeira fase de Velho Chico, às margens do rio. Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação

A projeção de  empatia de público baseia-se também no fato de Velho Chico marcar o retorno da parceria entre o autor Benedito Ruy Barbosa e o diretor Luiz Fernando Carvalho. Campeões de audiência desde Renascer (1993), os dois emplacaram grandes sucessos, como O Rei do Gado (1996) e Esperança (2002). Em 2006, a expectativa de novos trabalhos da dupla foi interrompida, devido a um AVC sofrido por Benedito. Em 2014, com o autor recuperado – mas, ainda assim, contando com o apoio dos netos para digitarem o texto que era criado e ao mesmo tempo narrado por ele –, a dobradinha resultou em novo sucesso, dessa vez na grade das 18 horas, a novela Meu Pedacinho de Chão.

A aposta de êxito de Velho Chico, claro, também é baseada em um elenco repleto de pratas da casa, como Tarcísio Meira, que interpreta o coronel Jacinto Sá Ribeiro, personagem central do início da trama; Rodrigo Santoro e Antonio Fagundes,  que, em fases distintas, dão vida a Afrânio, único herdeiro de Jacinto; Camila Pitanga, que, tempos depois, interpretará Maria Tereza, filha de Afrânio; Rodrigo Lombardi, como  Capitão Ernesto Rosa; Cristiane Torloni, como Iolanda, uma cantora de bar,  par romântico de Fagundes; Chico Diaz, o vaqueiro Belmiro dos Anjos; e Umberto Magnani, o Padre Romão, um dos poucos personagens que atravessarão as três fases da novela. Em sua fase final, Velho Chico também abordará a transposição do Rio São Francisco (leia mais).

Em visita ao Projac, o núcleo de produções da Rede Globo, sediado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, a reportagem de Brasileiros passou um dia ao lado de Luiz Fernando e parte do elenco da novela, em um encontro promovido pela emissora com outros quatro jornalistas e um grupo de dezenas de estudantes de Cenografia e Figurino.

Questionado sobre a experiência de imersão durante os quase dois meses de filmagens no Nordeste, Rodrigo Lombardi foi sucinto. “Estivemos em locações opressoras, onde a gente se estapeava em busca de uma sombra. Uma experiência que nos levou a descobrir que o Brasil é muito mais do que o eixo Rio/São Paulo e as grandes metrópoles.” Sobre a mesma pergunta, seu xará, sobrenome Santoro, estende o relato para enfatizar uma experiência lúdica. “O que mais me tocou foi entender de onde vêm a tal força e  alegria, quase invencíveis, que o nordestino tem. Em uma gravação no Raso da Catarina, com um grupo de crianças, tomei banho com a mangueira do caminhão pipa. Jamais vou esquecer a alegria daqueles meninos. Quando fomos começar as gravações, a produção reservou um segurança para evitar que possíveis assédios atrapalhassem o andamento, mas as crianças não estavam nem aí para a gente. O caminhão pipa e a água, estas sim, eram as grandes estrelas.”

Desconhecida do público televisivo, a atriz Zezita Matos fez caminho inverso ao das estrelas globais. Veterana, ela atua há 57 anos na cena teatral de sua terra natal, a Paraíba, e foi contratada para integrar o elenco de Velho Chico, como Piedade dos Anjos.  “Meu personagem faz com que eu, 1,50 m, tenha uma grande responsabilidade, porque Piedade traz dentro de si tamanha grandeza que num simples ‘diálogo’ que tem com uma vaca ela diz a que veio. Piedade vai mostrar o que é ser nordestino, ser brasileiro e ser universal. Quando soube quem era o diretor, deixei tudo de lado para aceitar o convite e fazer a novela.”

Em um campo de algodão de Baraúna, RN, Luiz Fernando dirige Rodrigo Lombardi, o Capitão Ernesto Rosa.  Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação
Em um campo de algodão de Baraúna, RN, Luiz Fernando dirige Rodrigo Lombardi, o Capitão Ernesto Rosa. Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação


A reverência de Zezita a Luiz Fernando reverbera os elogios acumulados na carreira do diretor, de 55 anos, composta de trabalhos televisivos reconhecidos pela exuberância estética e pelo destemor em levar para a tela da TV adaptações de obras literárias de grandes autores, caso das minisséries Os Maias (Eça de Queiroz), Capitu (uma releitura de Dom Casmurro, de Machado de Assis), A Pedra do Reino (Ariano Suassuna) e Alexandre e Outros Heróis, baseada em dois contos de Graciliano Ramos, O Olho Torto de Alexandre e A Morte de Alexandre.

Durante um período de questionamentos que o afastou da TV por seis anos, Luiz Fernando se empenhou   para, em 2001, realizar um velho sonho: verter para o cinema Lavoura Arcaica, o emblemático romance de Raduan Nassar. Denso, com quase três horas de duração, o filme arrematou 25 prêmios em mostras nacionais e internacionais, entre elas o Festival de Montreal, no Canadá, o Festival de Cartagena, na Espanha, o Festival de Havana, em Cuba, e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde foi eleito melhor filme pelo voto popular. Em 2017, ele promete voltar ao cinema com uma releitura de A Paixão Segundo G.H. de Clarice Lispector.

O encontro no Projac foi realizado no galpão particular de Luiz Fernando, espécie de laboratório de criação, repleto de detalhes cenográficos, figurinos e estandartes, onde ele também reúne os atores para ensaios. Na extensão de três das quatro paredes, salta aos olhos o nome “São Francisco” grafitado em letras garrafais brancas. Depois de muita troca de informações e declarações emocionadas dos estudantes, a atriz Camila Pitanga resume a experiência daquele encontro e retribui o carinho dos visitantes: “Vou falar três palavras que estão ecoando na minha cabeça e estão me deixando com o coração na boca: gratidão, amor e coragem. É disso que precisamos”.

Atrasado para as gravações daquela sexta-feira, Luiz Fernando lamenta a não continuidade do bate-papo e garante que entregará dois dias depois, por e-mail, a conclusão de nossa conversa. Promessa cumprida, a seguir, os melhores momentos da entrevista com o diretor de Velho Chico.

As filmagens de Velho Chico demandaram a colaboração de moradores de regiões como Olhos D’Água do Casado, em Alagoas. Fotos: Caiuá Franco/Globo/Divulgação
As filmagens de Velho Chico demandaram a colaboração de moradores de regiões como Olhos D’Água do Casado, em Alagoas. Fotos: Caiuá Franco/Globo/Divulgação

 

A TV como retrato do País
A maior missão para os profissionais que contribuem com o veículo TV deveria ser vasculhar rigorosamente a realidade do Brasil. Algo que, no meu modo de sentir, dia após dia, soa fugaz, em termos de representação. Insisto em um olhar mais rigoroso sobre os processos de representação de nossa realidade, porque o que vemos está quase sempre abaixo do que a amplitude do Brasil realmente é capaz de gerar. Questões primordiais ainda se encontram abandonadas pela nossa teledramaturgia. Faço essa reflexão para manifestar minha decepção com a elite artística, e não com a arte gerada pelo povo, como o Carnaval de rua, os folguedos e as festas religiosas escondidas nos rincões do País. Essas manifestações me parecem muito mais legítimas em captar e dar movimento ao espírito barroco brasileiro e à nossa perspectiva dionisíaca e miscigenada do que o que hoje se vê no teatro e no cinema comercial brasileiro. Incluo nesse caldo, claro, a TV brasileira. Habituamo-nos ao clichê, de preferência, voltados de costas para o Brasil real, profundo e misterioso.

Ética e estética
Não trabalho com fórmulas, mas com necessidades. Precisamos retomar a nossa libido intelectual, o nosso desejo de um País mais belo e justo para todos. Meus passos seguem um conjunto de procedimentos que não provam ou garantem nada, mas que asseguram um entendimento de que a estética só é possível se percorrida de mãos dadas com a ética.

Em tempos de internet
Não faço convenções que ponham em risco meu pensamento. Estamos em uma era de deslocamentos, em que tudo se move em velocidade estonteante, em que tudo parece ser novidade, mas só por alguns dias e pronto. O próprio mercado se ocupa em fazer com que conteúdos desapareçam. Afinal, ele precisa fazer a fila andar. Sinto confessar, mas nada disso me interessa. Filio-me à pesquisa sobre o gênero humano, suas eternas perguntas e contradições, independentemente de fazer uma minis série, uma novela ou um seriado.

Gênios do Brasil
Os seriados norte-americanos nunca foram referência para mim. Considero tola essa moda de ficarem citando isso e aquilo como realizações de gênios. Gênios somos nós. Nós é que temos Oswald de Andrade, Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Jorge de Lima e Mario de Andrade – mas, infelizmente, muitos de nós não temos coragem de abrir seus livros.

Influência literária
Desde menino, a literatura sempre me alimentou. Se tivesse que dizer o que busco em termos de linguagem visual, diria, sem a menor dúvida, que sempre sonhei em verter a narrativa de um Graciliano Ramos, de um Guimarães Rosa e de tantos outros. Uma aproximação desse diálogo está em Lavoura Arcaica. Raduan reuniu em um pequeno livro tudo que eu gostaria de ter lido, assistido, ouvido e até mesmo falado. A narrativa visual é, antes de tudo, uma fabulação do imaginário e, nesses termos, os dois processos aproximam-se, o da escrita e o da criação de imagens.

A atriz Marina Nery estreia em telenovelas com a personagem Leonor, mulher de Afrânio (Rodrigo Santoro). Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação
A atriz Marina Nery estreia em telenovelas com a personagem Leonor, mulher de Afrânio (Rodrigo Santoro). Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação


Retrocessos dramáticos
Em 30 anos de profissão, no meu modo de sentir, acho que houve retrocessos promovidos pela hegemonia da produção e da técnica em detrimento da sensibilidade criativa dos textos e, consequentemente, de toda a cadeia que alimenta a construção da dramaturgia para a TV. As narrativas recentes pecam pelo excesso de forma e pela carência de afeto com que determinados universos se alimentam do referencial humano.

Dois Irmãos
Os motivos para a escolha de adaptar o romance do Milton (Hatoum) são muitos. Ele é uma espécie de continuação de Lavoura Arcaica, mas em outro patamar. Postos lado a lado, a prosa poética de Raduan é circular, enquanto a narrativa de Dois Irmãos cria uma perspectiva política a partir do momento em que seu narrador é o excluído da família, um filho bastardo. O mundo cai e ele o observa de forma crítica. Já em Lavoura Arcaica o mundo soterra o narrador. Dois enormes romances.

Brasil plural
Como diria Guimarães Rosa, o Brasil é um País indizível. Tem uma dimensão étnica, estética e cultural que vai muito além do que o mercado preconiza. Uma nação ampla, que não se traduz em uma única região, um único estado, uma única cor ou um único tipo de música. Vivemos em uma terra multifacetada, com um espelhamento infinito de sentimentos que vem desde o Barroco e da cultura que nos formou. É um País de contrastes sociais, mas que não exclui as grandes emoções, que não tem medo do combate emocional. Essa mistura é nossa grande riqueza.

Antagonismos
Quando escolhi Tropicália (de Caetano Veloso) como música tema da novela não foi apenas por causa do artista, mas porque há nela um pensamento bastante lúcido sobre o País, sobre as camadas que se misturam e dão à música a sensação de atemporalidade. Não importa se as coisas acontecem no Nordeste, no Centro-Oeste, no Sul ou no Planalto Central. A cada novo momento do Brasil, alegria, êxtase, vida, morte, amores e paixões estão sempre presentes. Os grandes antagonismos estão em nosso sangue. Nós amamos muito. Odiamos muito. Choramos muito. Sorrimos muito. 

Tropicalismo agreste
Quando associo a novela ao Tropicalismo, quero dizer que essa informação está ligada às duas primeiras fases de Velho Chico, uma espécie de álbum de família do passado. Quando vier a fase atual, o telespectador vai pensar:  mas, afinal, no que deu tudo aquilo? Aquele rio ainda está lá? Aqueles amores ainda estão lá? O amor é eterno, transcendente, espiritual e mágico. Já o rio, não. Ele pode, literalmente, morrer. Para sobreviver, ele precisa de procedimentos políticos, de questões reais, de consciência, de formação e de educação. Há uma grande desinformação histórica sobre tudo o que o País viveu, da mesma forma que há desinformação em relação ao que podemos fazer para salvar o que é nosso, sem polarizações. Afinal, como diria Oswald de Andrade: tudo é Brasil. A avenida Paulista, o Planalto Central, a roça, a baiana, a garota de Ipanema, a Carmem Miranda, tudo é Brasil.

O ator Rodrigo Lombardi em cena como o capitão Ernesto Rosa. Grupo de atores participa de conversas com o diretor Luiz Fernando Carvalho.  Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação
O ator Rodrigo Lombardi em cena como o capitão Ernesto Rosa. Grupo de atores participa de conversas com o diretor Luiz Fernando Carvalho. Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação

Sertão místico
O imaginário do povo brasileiro é muito rico. A partir dos anos 1960, a televisão passou a ocupar o lugar dos oradores e das grandes narrativas populares. É evidente que, Brasil adentro, encontramos e assimilamos parte dessas fábulas. Algumas delas vão contracenar com a história principal de Velho Chico. Caso do Negro D’Água, uma figura mítica, que supostamente vive no rio São Francisco. O gênero narrativo da novela é o drama, mas ela também vai lidar com a dimensão mágica do sertão.

Reconstrução
De Norte a Sul do Brasil há grandes edificações históricas, pátios, conventos e instituições que, há décadas, estão abandonadas por nossos governantes. A ideia de que o Brasil está submerso em uma mentalidade obscura, que nos atravanca e nos cerca, é uma das vertentes da novela. No trabalho da cenografia, por exemplo, tivemos encontros com artesões e artistas locais que possibilitaram uma grande troca humana. Tanto que até trouxemos algumas dessas pessoas para ajudar a construir as edificações da cidade cenográfica.

Audiência
Nunca me preocupei com audiência. Se o ator entrar em cena e alguém disser pra ele “atenção, gravando, pense na audiência” ou “atenção, costureira, vá dar um ponto nesse vestido, passe já a linha na agulha, mas pense na audiência”, nada disso vai funcionar. A audiência é o imponderável. Van Gogh fez coisas maravilhosas, não teve “audiência” alguma e, hoje, é considerado um dos maiores pintores da história da arte. O que me interessa é o sonho de fazer um trabalho melhor, o sonho de representar um País melhor. Muitas das pessoas com as quais a TV dialoga tem um imaginário riquíssimo e, de repente, a gente dá um corte abrupto nessa realidade para abrir uma janela, mas nem sempre essa janela corresponde com a potência ficcional e fabular que aquela pessoa tem em sua memória.

Grupo de atores participa de conversas com o diretor Luiz Fernando Carvalho.  Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação
Grupo de atores participa de encontro no galpão do diretor Luiz Fernando Carvalho. Foto: Caiuá Franco/Globo/Divulgação

Benedito Ruy Barbosa
Como diretor de TV, se tivesse que apontar alguém que mais me marcou, essa pessoa é Benedito Ruy Barbosa, a razão maior de eu estar fazendo esse trabalho. Desde que fizemos Esperança, minha primeira direção-geral, ele sempre me deu liberdade de apresentar meu olhar sobre o que ele escreveu. Influencio o texto dele, da mesma forma que ele me influencia. Benedito é incrível, um grande exemplo. Um homem de 84 anos que não desiste. A experiência dele com a própria vida e sua memória sempre me emocionaram muito. O grande legado que construí na televisão vem da minha relação com esse grande autor e com os grandes atores que dirigi.

Ancestralidade
Não estamos fazendo uma novela rural. Essa é uma história que poderia ser contada em qualquer região do País, inclusive em grandes centros urbanos. É uma trama universal, com dramas familiares e forças arquetípicas. Acredito que, justamente por isso, Velho Chico vai mexer com as pessoas, porque elas vão sentir uma força ancestral que, nas últimas décadas, foi muito posta de lado e abandonada. Precisamos reencontrar essa correnteza, essa energia, pois quando a gente se reconecta com nossas forças, nos sentimos mais vivos, nos sentimos parte de um País possível de ser mais justo e belo para todos. Na primeira fase, a novela tem a paisagem do campo. Na segunda, existe a grande mistura das cidades do interior de hoje em dia, onde você vê um cara montado em um jegue ao mesmo tempo  que ele navega em seu smartphone.

Outros nortes
Espero que as próximas novelas sejam ambientadas no Centro-Oeste, nos pampas gaúchos, na Amazônia, em Minas Gerais, no Espírito Santo… Quero conhecer melhor o Tocantins. Quero saber como é a vida em Santa Catarina. Essa modulação é fundamental para devolver ao telespectador a grandeza do nosso País e fazer com que ele se sinta mais forte como ser humano. Depois de anos e anos de histórias passadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, me pergunto como é que está a cabeça do paraibano, como é que está a cabeça do cara de Alagoas. Eles se sentem excluídos? Se sentem sem voz? A televisão e os espectadores terão muitos ganhos com uma representação mais diversa do País. 

A TELENOVELA ALÉM DAS FRONTEIRAS

Em concorrentes por mais de três décadas, a Rede Globo tem hoje na Record um “inimigo” a combater. Desde o começo dos anos 2000, a emissora do Bispo Edir Macedo, vez ou outra, afronta a soberania da Globo com produções, muitas vezes, baseadas em textos bíblicos, como Os Dez Mandamentos, recentemente vertida para o cinema. No entanto, a hegemonia internacional da Globo, segue a passos largos, com produções vendidas para mais de cem países, entre eles Coreia do Sul, Romênia e Portugal. Atualmente, as campeãs são: Avenida Brasil, Caminho das Índias, Da Cor do Pecado, Escrava Isaura e O Clone.

 Mais:  Leia Esperança controversa, reportagem sobre a transposição do rio São Francisco

BRASILEIROS 104


Comments

2 respostas para “O sertão volta ao horário nobre”

  1. Avatar de Yolanda Saboya
    Yolanda Saboya

    A novela mostra e a matéria confirma: o folhetim se passa nessa região tão linda do Brasil, mas suas principais questões poderiam ser retratadas em qualquer lugar do país. Parabéns a todos na redação.

  2. Simples. Mais uma novela política. A Globo tem politizado suas últimas novelas e tenta impor sua visão de mundo e de dominação sobre a subjetividade do brasileiro. Nesta ela quer alienar também os estados no Norte, que têm sido decisivos nas últimas eleições presidenciais, elegendo candidatos não favoráveis à Globo, ao governo da Globo.

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