Foto: Divulgação
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Hany Abu Assad é hoje um dos grandes representantes do cinema palestino. Nascido na cidade de Nazaré em 1961, 13 anos depois da criação do Estado de Israel, o diretor passou sua infância em uma Palestina rural, onde, mesmo sem TV, teve contato com o cinema e “apaixonou-se”. Jovem, estudou Engenharia na Holanda, mas a vocação pela sétima arte fez com que ele largasse a profissão para investir no cinema. Em 2006, Assad conquistou a atenção do público e da imprensa internacional. Seu longa-metragem Paradise Now, centrado nos dilemas de dois homens-bomba, ganhou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e concorreu ao Oscar de filme estrangeiro, causando polêmica entre grupos israelenses que acusaram o diretor de fazer “apologia ao terrorismo”.

Seu novo trabalho, O Ídolo, que estreia dia 8 de dezembro nos cinemas brasileiros, conta a história verídica de Mohammed Assaf, jovem cantor de Gaza que, em 2013, foi o vencedor da versão árabe de American Idol, causando comoção entre os palestinos. O longa-metragem foi um dos primeiros rodados em Gaza nos últimos anos, período marcado por diversas invasões militares e a eleição do grupo radical Hamas. CULTURA!Brasileiros entrevistou o cineasta, que fala um pouco sobre seu novo trabalho, a situação atual da Palestina e a sua relação com o Brasil.

CULTURA!Brasileiros – Como você decidiu se tornar cineasta?
Hany Abu Assad – Meu amor pelo cinema começou desde que eu era pequeno. Quando tinha 5 anos, fui assistir a um filme no cinema com o meu tio. Eu nunca tinha visto imagens em movimento antes, porque não havia televisão nos anos 1960 em Nazaré. Fiquei apaixonado por esse meio porque era extremamente real. Lembro que assisti a um western no qual havia muitos cavalos. Quando o filme terminou, fiquei andando em volta do cinema, tentando ver onde estavam os cavalos. Desde então, o cinema passou a fazer parte da minha vida. Mais tarde, fui para a Holanda e me formei em Engenharia. Mas não fiquei feliz com a profissão, então comecei a trabalhar como assistente de direção e pouco a pouco lancei os meus filmes.

Você se lembra de quando Mohammed venceu o Arab Idol?
Sim, eu estava em Nazaré. Milhões de pessoas se reuniram em uma grande praça para assistir à final do programa. Eu era uma delas. Lembro de ter me sentido muito feliz por compartilhar aquele momento com meu povo. Ali eu percebi que deveria filmar a trajetória de Mohammed. Queria contar uma história de esperança num local como Gaza, do qual sempre ouvimos notícias ruins.

Li que O Ídolo foi um dos primeiros filmes rodados em Gaza nos últimos anos. É verdade?
Sim. Gaza está bloqueada há muito tempo. Nada lá é fácil, então com certeza nenhum filme foi feito nos últimos anos. Mas o interessante é que as pessoas que moram lá são muito esperançosas. Elas vivem em terríveis circunstâncias, destruição, guerra e fome. Mesmo assim, queriam ajudar e dividir o pouco que tinham conosco. Foi uma experiência incrível para mim ver que as pessoas mantêm a sua humanidade mesmo em situações extremas.

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Como você analisa a situação atual da Palestina?
Há uma opressão fortíssima, mas temos esperança. É difícil parar um Estado forte como Israel e principalmente a ocupação em Gaza e na Cisjordânia; para isso, precisamos de ajuda internacional. Nossa situação é muito ruim, mas estamos lutando pela nossa liberdade. E um dia seremos livres.

O diretor israelense Amos Gitai já declarou que o cinema deve revelar as complexidades do conflito, diferenciando-se das imagens divulgadas todos os dias pela mídia. Você concorda?
Não. Acho o contrário. A situação é bem simples, mas Israel tenta torná-la complexa para poder continuar sua opressão. Há uma guerra, um grupo de pessoas usando o poder para garantir os seus privilégios, e outras pessoas, por sua vez, lutando para se tornarem iguais e livres. O cinema, a meu ver, deve mostrar a complexidade dos seres humanos, seus desejos e falhas, e não do conflito, que é bem claro.

Paradise Now traz essa complexidade de que você fala e causou muita polêmica. O que você achou desse episódio?
Já faz muitos anos. Sabe, as pessoas em geral têm dificuldade de enxergar que aqueles que cometem atos terroristas são seres humanos como elas. Por isso meu filme chocou tanto. Eu decidi fazer este filme na época  porque estava curioso para entender o que levava os homens-bomba a tomar tal decisão. E qual era a situação na qual eles viviam. Queria entender o que estava acontecendo.

Mudando um pouco de assunto, ouvi falar que você gosta bastante do Brasil.
Eu amo o Brasil. Se não fosse tão longe da Palestina, eu estaria sempre aí. Em 2008, fui visitar o País para produzir um filme, que acabou dando errado. Permaneci seis meses e fiz vários amigos, como Fernanda Torres, Caetano Veloso, Paula Lavigne e Paulo Coelho. Adoro a música brasileira, a comida e o cinema, do qual sou grande fã. Gosto muito de diretores como Walter Salles, Hector Babenco, Fernando Meirelles e Carlos Reichenbach. Ver seus filmes foi uma grande oportunidade que tive de conhecer o Brasil a partir das perspectivas particulares de cada um.  Agora espero fazer o mesmo, construir uma espécie de janela para que o público brasileiro possa conhecer a Palestina através do meu olhar.


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