Maria Alice Vergueiro receberá homenagem na 40ª Mostra Internacional de Cinema

 

Maria Alice Vergueiro recebe beijo de espectador após apresentação de Why The Horse? em 2015.  Foto: Bob Sousa
Maria Alice recebe beijo de espectador após apresentação de Why The Horse? em 2015.  Foto: Bob Sousa

Aos 81 anos, a atriz Maria Alice Vergueiro já passou por muita coisa, de momentos muito bem-humorados, como a ascensão do hit Tapa na Pantera, a outros um tanto dramáticos, como a descoberta do mal de Parkinson e a morte de seu irmão. Segundo ela, desde que a perda, a morte tem sido tema constante de seus pensamentos e agora também de seu trabalho. Em Why The Horse?, peça que vem trabalhando desde o ano passado, ela encena o próprio velório. Na 40ª Mostra Internacional de Cinema, em cartaz em São Paulo, o documentário Górgona mostrará os bastidores de Maria Alice durante o processo da peça As Três Velhas, na qual foi diretora e fez parte do elenco. As cenas mostram os desafios emocionais e criativos para a construção da peça. É um retrato da criadora, não da criatura.

A ideia inicial de Maria Alice era apenas dirigir o espetáculo, mas depois de muita insistência de Luciano Chirolli, a quem se refere como “o novo irmão que ganhou da vida”, aceitou entrar em cena. O espetáculo foi montado a partir de texto de Alejandro Jodorowsky. “Eu achava que já tinha feito minha parte de teatro na minha carreira. Estava só querendo dirigir e não me comprometer com a personagem também”, contou a atriz à reportagem de CULTURA!Brasileiros. Desde o começo, Maria Alice quis que fossem três homens atuando, como no texto original, mas logo assinou As Três Velhas como atriz e diretora. “O patrocínio só saiu depois que ela aceitou atuar na peça”, brinca Chirolli, que também faz uma das personagens.

Em toda a carreira, Maria Alice quis estar no palco. Fez apenas uma novela, quando entrou na pele de Lucrécia em Sassaricando. Nunca mais quis fazer televisão. “Eu acho a TV um pouco frágil para papéis que são reservados a mim. Eu fazia mais Brecht e Beckett, que eram dramaturgos mais potentes, mais fortes e épicos”, pontua a atriz. Para ela, a novela trata a dramaturgia de forma mais simples, formato com o qual não se identifica.

Maria Alice foi acometida pelo Parkinson há mais de uma década e também teve um problema no joelho que dificultou sua locomoção, mas isso não a desmotivou. O que a desanima, segundo ela, é o contexto político que o Brasil vive hoje: “Eu acho que houve realmente algum problema nisso tudo. Não foi uma coisa normal. A Dilma foi, de uma certa maneira, boicotada”. Em julho, ela convidou a ex-presidente, para assistir a peça Why The Horse?. Dilma não compareceu ao evento, mas enviou-lhe uma carta, muito bonita, diz Maria Alice, que chegou pouco antes de ela entrar em cena. Segundo Chirolli, que leu a carta para a plateia, o teatro veio abaixo com as palavras carinhosas da presidenta afastada.

Famosa pelo curta-metragem Tapa na Pantera, que fez a internet ir à loucura em 2006, Maria Alice diz ser favorável à legalização da maconha. No vídeo, ela interpretou uma usuária. “Eu sou a favor das drogas de um modo geral. Não adianta ficar perseguindo os que são chamados de ‘viciados’, porque eles vão fazer o que eles querem sempre”, comentou. Para a atriz, a abordagem do assunto deve ser feita por meio das possibilidades dessas pessoas transformarem o vício em algo melhor, com criatividade. Na época, Maria Alice foi acusada de estar fazendo apologia às drogas, embora o vídeo fosse claramente fictício e irônico.

O pensamento de Maria Alice na morte tem sido constante ultimamente, mas ela afirma que essa reincidência não vem de forma trágica: “Penso na morte como uma forma de pesquisa do que há depois dela. Sinto vontade de atualizar um pouco o meu conhecimento sobre o desenvolvimento do ser humano”. Apesar de não possuir uma religião, a atriz é devota de Santo Antônio e possui imagens dele espalhadas por seu apartamento, em Higienópolis, na região central de São Paulo. “As pessoas às vezes se ligam mais na destruição do que na percepção do amanhã, da possibilidade de uma mudança. Pensar nisso é pensar na vida e pensar na morte também”, pondera.

Seguido de um bate-papo com a atriz, o documentário estreia na 40ª Mostra Internacional de Cinema, às 19h45 desta sexta-feira (21), no Itaú Cultural, em São Paulo. Górgona é dirigido por Pedro Jezler e Fábio Furtado, estreantes na direção de longa-metragens. Terão acesso ao bate-papo apenas os espectadores que compraram ingressos para o filme. Se existirem lugares vagos após a exibição, a entrada para a conversa será liberada e gratuita.


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