Temos que tirar o chapéu para Dunga

Apanhou como cachorro magro e reagiu como um pitbull, mas Dunga teve a grandeza de pedir desculpas pelo ataque de fúria que teve após o jogo de domingo. São muito raros os casos de homens que ocupam função pública, qualquer que seja, com capacidade de reconhecer o erro.

“Quero pedir desculpa ao torcedor brasileiro pela minha atitude, a forma como me comportei. O torcedor não tem nada a ver com problemas pessoais meus”, reconheceu o técnico, na antevéspera do jogo.

Por coincidência, escrevi que a torcida não tem nada a ver com esta pendenga entre o técnico e a TV Globo no final do meu texto de terça-feira, em que comentei como, de uma hora para outra, Dunga tinha virado uma nova Geni da imprensa, dando uma trégua aos políticos nestes tempos de campanha eleitoral e Copa do Mundo:

“Estão atirando pedras para o lado errado e vão acabar acertando na nossa torcida que não tem nada a ver com isso”.

Em lugar de elogiar o gesto de grandeza de Dunga, os coleguinhas que estão na África do Sul o criticaram novamente o técnico por pedir desculpas só à torcida e não à imprensa. E por que ele haveria de pedir desculpas à imprensa num episódio em que os dois lados erraram? Por acaso os jornalistas foram pedir desculpas a Dunga?

O sol bate forte desde cedo, as vuvuzelas e as buzinas já estão ensandecidas, mas ainda faltam duas horas para começar o jogo do Brasil contra Portugal. Escrevo antes da partida para não parecer que estou surfando na onda dos resultados, como é de hábito nos comentários sobre futebol.

Tanto faz o resultado do jogo de hoje, se no final o Brasil vai ou não trazer o caneco mais uma vez, se Dunga voltará como herói ou vilão. Até aqui, ele fez o papel dele de montar um time vencedor, conquistar títulos, classificar o Brasil para a Copa da África do Sul e, antecipadamente, para as oitavas de final.

Assim como ninguém é obrigado a gostar da Globo e do Galvão Bueno, como escrevi na quarta, também ninguém é obrigado a gostar do Dunga, mas não podemos deixar de reconhecer os acertos do seu trabalho até aqui, mesmo com toda torcida contra ele de quase toda a imprensa esportiva, desde o seu primeiro dia na seleção.

Pouco importam seus modos toscos, muitas vezes rudes, sua cara amarrada, a falta de um sorriso ou um agrado de vez em quando, suas roupas esquisitas. Dunga não está nesta função para agradar a ninguém – a não ser à torcida brasileira, que é a quem ele deve satisfações e foi a quem ele pediu desculpas. Temos que tirar o chapéu para Dunga.


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