Vá ao Teatro Municipal!

Não serei mais um a empunhar a vuvuzela para engrossar o coro dos descontentes e corneteiros. Não pintarei, porém, um quadro surrealista de Salvador Dali. É tempo de realismo. Porque se um ET descer em terras tupiniquins e ligar a TV, ler o jornal ou acessar a internet para se atualizar sobre a maior competição do esporte mais popular do planeta, vai se assustar. [nggallery id=14254] Parece que o esporte preferido da maioria da imprensa do País é criticar a seleção brasileira de Dunga. Desde a convocação, no dia 11 de maio, é raro ouvir um elogio, mínimo que seja. Não se trata de fechar os olhos e eleger a equipe como a oitava maravilha do mundo, o espetáculo na terra ou algo parecido. Porque isso é pintar o tal quadro surrealista. Peço, de novo, realismo.Números não contam tudo sobre o futebol. Não. Pois o futebol é muito mais complexo do que a fria matemática. Mas, as estatísticas escrevem um pouco do enredo mágico do esporte bretão. 58 jogos, 41 vitórias, 12 empates e apenas 5 derrotas. Aproveitamento de 77,5% dos pontos disputados. Até hoje, 25 de junho, esses são os números de Dunga à frente da seleção brasileira, que incluem também três títulos em três torneios disputados (Copa América de 2007, Copa das Confederações de 2009 e eliminatórias para a Copa do Mundo), além de vitórias sobre os principais rivais (Argentina, Itália, Inglaterra).Nesta sexta-feira, o objetivo obrigatório da classificação para as oitavas de final do mundial foi alcançado. Obrigatório para o time com mais títulos de Copas do planeta. Mas, as vuvuzelas não param. “Futebolzinho burocrático esse!”, dizem uns. “Esse time do Dunga é duro de assistir!”, reclamam outros. Quando há o raro elogio, ele vai na linha de que a taça será do Brasil, mas no estilo de 1994, com pouco brilho. Querem, de todo o jeito, reescrever o roteiro do filme do tetra. Discordo, mas não entremos no mérito da comparação, porque não é o caso.Fiquemos na análise do time do Dunga técnico, só. Das “chatas” vitórias, “duras de assistir”, contra os Estados Unidos, na final da Copa das Confederações, diante dos italianos, na primeira fase do mesmo torneio. Ah, aquele jogo contra a Argentina, em Rosário, pelas eliminatórias da Copa, foi outro com “futebol burocrático”.”Esquece o passado”, pedem os críticos. Vamos falar do presente e futuro, ou seja, Copa do Mundo de 2010. Pois bem. No rotulado “grupo da morte”, a seleção brasileira classificou-se em primeiro lugar. Mas isso era obrigação, claro. Certo. Então, vamos ao jogo em campo, o futebol apresentado. Talvez seja eu um solitário ou um louco, pois o que vi foi um time forte, consciente, paciente, pois se viu diante de três ferrolhos.Coreia do Norte, Costa do Marfim e Portugal defenderam-se com 9 jogadores e não ousaram abrir mão do ferrolho na retaguarda em nenhum momento. Na estreia, dificuldades, mas vitória. Sem brilho, mas com pontos positivos. O maior deles foi o que fez a seleção superar os africanos no segundo jogo: paciência. “A pressa é a inimiga da perfeição”, como escrevi no texto da partida contra os marfinenses. O time de Dunga tem a paciência de um monge tibetano. E isso, para mim, é belo. É uma virtude nobre. Repita-se: não é o espetáculo da terra. Como disse Muricy Ramalho: “Quem quer ver espetáculo que vá ao Teatro Municipal!”.Está mais do que na hora de perceber o quanto o futebol mudou, dentro e fora de campo. Não há espaço, não há tempo, as decisões são tomadas em frações de segundos. Uma metáfora de nossa louca vida moderna. Piorou? Fico com a dialética, de evolução e retrocesso a cada momento. Assim como os processos históricos. A exemplo dos bons times dos últimos tempos, seleções e clubes, campeões ou não, a seleção de Dunga é espelho desse mundo moderno.Pare, olhe melhor. Há beleza em tudo isso: o mundo moderno e também a seleção de Dunga. Está um pouco escondido, mas está lá, na triangulação Robinho-Kaká-Luis Fabiano, no primeiro gol contra a Costa do Marfim, por exemplo. Jogada de futebol moderno. Uma pintura. Instante de felicidade, da bola viajando pelo ar, como a pluma levada pelo vento, na Felicidade de Tom e Vinícius.Claro, o grupo de Dunga pode voltar ao País sem a taça. Perder faz parte do jogo e também da vida. Desde já, temo por quantos “eu não falei!” ouviremos nos dias seguintes a uma derrota. Ou até pela crítica mesmo em caso de título, com a comparação ao tetra. Na verdade, não temo por esse grupo de descontentes. Tenho pena. Não enxergam a beleza escondida no futebol. Talvez não a encontrem também na vida. Tristeza não tem fim, felicidade, sim.Notas e impressões– O Chile, adversário das oitavas de final, é um grande freguês do Brasil. Em 65 jogos, foram 46 vitórias brasileiras, 12 empates e apenas sete triunfos chilenos. Em Copas do Mundo, foram dois confrontos. Em 1962, na semifinal, vitória por 4 a 2. Já na França, em 1998, 4 a 1 Brasil, nas oitavas de final. Na Era Dunga, foram cinco partidas e cinco vitórias, duas na Copa América de 2007, duas nas eliminatórias da Copa e uma em amistoso.- O confronto ibérico pelas oitavas será muito interessante. A Espanha tem ampla vantagem no retrospecto. Foram 32 jogos, com 15 vitórias da Fúria, cinco triunfos de Portugal e 12 empates. O duelo será na terça-feira, às 15h30, na Cidade do Cabo.

MAIS:
– Página especial da Copa do Mundo de 2010 no iG
Site oficial da Copa do Mundo de 2010

Placar em branco, mas 1º lugar

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